O Supersábado de Convenções, mais o domingo, definem, afinal as principais candidaturas presidenciais – e suas alianças. Exceto pelo mais importante: o PT. Após uma visita a Lula, na carceragem da PF em Curitiba, nesta sexta, 03, a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, e o coordenador do programa de governo, Fernando Haddad, saíram com a notícia-bomba: o PT fará a convenção, mas não fechará a chapa, que será encabeçada, ainda que sub judice, pelo ex-presidente. A estratégia é esticar até o próximo dia 15, prazo máximo para o registro dos candidatos, o anúncio de seu vice – ignorando ameaças veladas do TSE de encerrar o prazo e inviabilizar a chapa petista. A decisão pode não agradar o PCdoB, de Manuela D’Avila, já dada como certa como a candidata a vice de Lula – e que esperava essa confirmação ainda no fim de semana. Como se já não bastasse a crise com a militância em Pernambuco, com o fechamento do acordo nacional com o PSB, expurgando a candidatura de Marília Arraes (PT) ao governo de Pernambuco. Para bagunçar mais o coreto, e dificultar a vida de qualquer analista, Gleisi voltou a acenar para Ciro Gomes (PDT) como “um bom vice” para o PT. Neste quadro de futuro que parece indecifrável, Os Divergentes decidiram ouvir uma das mais inovadoras empresas de pequisa de opinião do país, a Vertude.
Ricardo Brasil, diretor-executivo da Vertude, que tem empenhado na campanha sua equipe multidisciplinar – de cientistas de computação que operam o Big Data, matemáticos, estatísticos, até uma equipe de análise política tarimbada – garantida pela parceria com a Santafé Ideias, do jornalista Etevaldo Dias -, afirma que o segundo turno deve sim ter um embate entre esquerda e direita (ou centro-direita e centro-esquerda, dependendo de como se cataloga) e que o candidato de Lula, confirmada sua impugnação, largaria, assim que indicado, com 15% a 20% de intenção de votos. “Lula tem sim capacidade de transferir votos de forma importante”, afirma. Unindo métodos tradicionais de aferição de opinião com muita tecnologia, a Vertude procura reduzir ao máximo a margem de erro. “Eu brinco que somos um bando de cientistas meio nerds obcecados em prever o futuro”, diz Ricardo. A Vertude não costuma registrar e divulgar a maioria das pesquisas para a mídia para evitar pressões. “Não admitimos pressão política externa, então trabalhamos nos bastidores”, explica.
Outra novidade: mesmo sem descartar a entrevista pessoal, a Vertude foca na pesquisa por telefone, inclusive com o uso de robôs, lastreada na lógica de que pessoalmente o entrevistado tem mais constrangimento de declarar suas opiniões, como se viu na campanha norte-americana que elegeu Donald Trump. “Nesse modelo, está comprovado, as pessoas são muito mais honestas”, explica Ricardo. Usando esse método, A Vertude percebeu que as intenções de voto em Bolsonaro crescem acima do que mostram hoje as pesquisas de opinião. “É o que chamamos de voto envergonhado”. Foi difícil, mas Os Divergentes conseguiram ouvir Ricardo Brasil sobre o atual pandemônio eleitoral.
Ricardo Miranda: Qual o cenário que a Vertude enxerga hoje?
Ricardo Brasil: De bastante indefinição. Observamos, em nossas pesquisas, um alto índice de eleitores apontando que vão votar branco ou nulo, ou que não escolheram ainda o candidato. A eleição está bastante aberta. Acredito bastante que teremos um candidato que representa o setor mais conservador, do centro para a direita, no segundo turno, contra um que representa mais a centro-esquerda, o eleitor mais progressista. A grande diferença do que vimos nas últimas eleições é que dessa vez a polarização PT x PSDB está ameaçada. Temos uma quantidade maior de candidatos com chance de chegar no segundo turno.
Ouça a resposta:
Miranda: Qual a capacidade efetiva de transferência de votos do ex-presidente Lula.
Brasil: Uma das coisas que a gente vem sendo bastante cobrado por clientes que tem interesse em entender o que vai acontecer nessas eleições é tentar medir a capacidade que o Lula tem de transferir votos para um candidato petista ou não petista- mas que tenha seu suporte claro e definitivo. Temos tentado medir isso de várias formas, para chegar num número confiável. Acreditamos hoje que o Lula tem sim capacidade de transferir votos de forma importante e não ficaria surpreso, uma vez definido o candidato do PT, que esse candidato, após uma sinalização clara do Lula, largue com 15% a 20% de intenção de votos.
Ouça a resposta:
Miranda: Como a Vertude interpreta o chamado “fenômeno” Bolsonaro?
Brasil: O fenômeno Bolsonaro tem muito a ver com o momento político que a gente vive. Claramente os maiores partidos políticos, e o establishment político de uma maneira geral, independente de ideologia, vem sofrendo um desgaste enorme. E claramente o voto no Bolsonaro tem um coeficiente de voto de protesto. Ele é uma opção para um grupo importante de eleitores que vem buscando um candidato mais do centro para a direita, mas também temos identificado ex-eleitores do Lula e ex-eleitores da Marina votando no Bolsonaro. Isso mostra de forma bastante clara que temos um índice de voto de protesto muito grande.
A grande questão é saber se, iniciado o período de campanha eleitoral, Bolsonaro conseguirá manter esses níveis. O eleitor ainda está muito desatento, pouco engajado nas propostas, e o voto ainda é muito emocional. Não vai ser fácil para o Bolsonaro manter esses níveis de intenção de voto que vemos hoje. Claramente campanhas como a de Geraldo Alckmin, com tempo de TV grande e estrutura partidária forte, são uma ameaça ao Bolsonaro.
Ouça a resposta:
Miranda: Isso quer dizer que Bolsonaro tende a cair?
Brasil: A gente nota uma diferença muito grande nos números e no desempenho dele nas pesquisas tradicionais, no face to face, usando entrevistador, com aquelas que fazemos por telefone – principalmente quando se usa robô falando com as pessoas. Quando o eleitor é acessado por telefone, principalmente por uma máquina, ele se sente mais seguro em dizer o que pensa. A gente entende que o cidadão é muito mais honesto falando com uma máquina. Ele se sente protegido quando sabe que não haverá reprovação por parte do entrevistador. O resultado do Bolsonaro, quando fazemos a pesquisa nesse modelo, é muito maior. Esse efeito a gente chama de voto envergonhado. Isso, inclusive, aconteceu nos Estados Unidos com Trump. Muitos eleitores tinham vergonha de falar com seus amigos, com sua família, e com entrevistadores humanos, que iriam votar no Trump. Só as pesquisas feitas por robôs, por telefone, capturaram o que iria acontecer. Com Bolsonaro isso tem acontecido. Tem uma parcela importante de eleitores do Bolsonaro que estão nesse espaço. Vai ser bastante interessante acompanhar esse processo eleitoral até o final.
Ouça a resposta:
Miranda: O que será decisivo na campanha?
Brasil: Uma das coisas mais importantes durante o período eleitoral vai ser entender se as mídias sociais, a internet, e os aplicativos de mensagens vão ser tão importantes quanto o tempo de televisão e estrutura partidária. Essa é a grande questão nesse ano. E, de verdade, não tenho resposta pra isso. Teremos que acompanhar o processo e lá na frente ter uma resposta para essa equação. Daí a importância de fazer pesquisa de forma recorrente – no nosso caso, semanais, para pegar movimentos importantes. Nessa eleição isso será fundamental, já que vamos ter um número maior de candidatos com chances e toda essa dúvida sobre o que vai prevalecer – o jeito tradicional de se fazer política ou a internet.
Ouça a resposta:
Miranda: Quem você apostaria que vai ganhar a eleição?
Brasil: A eleição ainda está bastante aberta. Muito difícil de sinalizar nesse momento quem é o favorito ou como vamos encerrar esse processo. Mas uma das razões de estar constantemente pesquisando o cenário político eleitoral é para monitorar as grandes tendências. Após algumas semanas de campanha, a gente vai em algum momento antecipar esse resultado. Nesse momento, nunca foi tão importante fazer esse monitoramento recorrente próximo do cenário.
Ouça a resposta: