Por Maria Luiza Abbott e Marcelo Stoppa
O deputado Jair Bolsonaro (PSL) voltou ao 1º lugar no ranking de relevância e visibilidade (R&V) dos candidatos a presidente no Twitter, entre 13 e 20 de julho, segundo a pesquisa semanal da AJA Media Solutions. Padrões de interação das redes indicam que a subida marcante do deputado decorreu de uma mudança da estratégia de comunicação: aumento de postagens e ações de grupos que representam apenas 4,5% de todos os usuários que participaram do ecossistema das eleições no Twitter no período.
Esses perfis operaram em conjunto, curtindo e retuitando em massa as postagens do deputado, impulsionando o perfil em operações que lembram aquelas adotadas por apoiadores e cabos eleitorais no mundo analógico. Já o número de postagens diárias do perfil chegaram a até 18 em um dia, muito superior à média que era de 3 a 7 tuítes nas últimas semanas.
Em 2º lugar no ranking, ficou o ex-presidente Lula, que sofreu forte perda de visibilidade em relação à semana anterior. Sem possibilidades de participar presencialmente da pré-campanha e sem um fato que gere debate sobre sua candidatura, a fatia de R&V de Lula no Twitter caiu de 36% para 22%.
Em caminho oposto, a R&V de Bolsonaro, que vinha estacionária e em queda há quase dois meses, saltou de 14% para 32% na semana com as novas iniciativas. A análise métrica e qualitativa indica que ele conseguiu propagar sua mensagem, mas teve baixa taxa de sucesso em sensibilizar potenciais eleitores fora de sua órbita.
Os apoiadores do candidato do PSL atuaram em diferentes frentes no Twitter, como na amplificação da visibilidade de imagens e memes ligadas à estratégia de comunicação de @jairbolsonaro. Entre os tuítes do perfil que mais foram impulsionados pelas ações dos grupos, um agradecimento: “Obrigado pela confiança, amigos produtores de Sidrolândia – MS!”, que mostrava uma foto aérea, de alta qualidade visual, de uma fazenda e da frase “Bolsonaro 2018”, como se tivesse sido recortada com precisão em uma lavoura.
Apoio dos seguidores aparece também em um tuíte em que @jairbolsonaro informa que um marqueteiro disse que ele perde 20% de eleitores por mês. O tuíte fazia uma suposta ironia com a informação, mas também poderia ser interpretado como desconhecimento de matemática, e atraiu lições em porcentagem e críticas, provocando a reação de apoio dos seguidores.
Outro reforço de relevância ao perfil veio de uma série de tuítes irados contra uma notinha na coluna da jornalista Sonia Racy sobre uma frase que teria sido dita por Bolsonaro em um encontro com empresários. A frase contraria a narrativa do candidato de que a misoginia não é parte de seu relacionamento com as mulheres – apesar de declarações antigas gravadas e disponíveis na internet – e provocou forte reação do candidato e seus filhos.
Em 3º lugar no ranking da semana, continua Guilherme Boulos, candidato do PSOL, e em 4º, Manuela D’Ávila (PC do B), que mantiveram suas fatias de R&V praticamente inalteradas em relação à semana anterior. Em 5º, João Amoêdo (Partido Novo), que pela primeira vez conseguiu passar do patamar de relevância – piso de visibilidade para que os pré-candidatos consigam gerar diálogo em volume suficiente para que sua mensagem seja ouvida e tenha potencial para ser usada como instrumento de persuasão na busca de votos.
Padrões de interação nas redes sugerem ações coordenadas
Nesses últimos cinco meses, período em que a AJA vem fazendo análise das interações dos pré-candidatos nas redes, constatou-se uma geometria curiosa nos padrões de comportamento formados nas nuvens de cada um: estruturas que parecem leques ou árvores, formatos organizados, simples demais para a dinâmica complexa das trocas de informações em redes sociais.
Para avaliar essas estruturas em cada uma das nuvens dos candidatos, foi usado um algoritmo para evidenciar graficamente as interações de cada candidato com outros usuários. As cores escuras indicam usuários cujo engajamento (soma de curtidas, compartilhamentos e comentários) é menor que 15 e participaram apenas uma vez no diálogo com o pré-candidato durante a semana. A região colorida sublinha postagens e usuários com mais de 15 interações. Quanto maior a visibilidade de um candidato, maior deveria ser o número de interações de usuários com eles, o que significa mais cor e menos tons de preto nas nuvens deles. Isso acontece porque a análise indica que os candidatos com grande visibilidade e relevância na rede conseguem um grau de fidelização mais elevado e, consequentemente, aqueles que interagem com eles o fazem com mais frequência
A alta presença de usuários com baixo engajamento e com elevada interação em postagens – que não são debates – em perfis de candidatos com alta visibilidade podem indicar a existência de ações coordenadas para aumentar o número de likes e compartilhamentos.
Há casos de ações coordenadas de forma espontânea, que acontecem com postagens mais incisivas, que têm alta ressonância com a narrativa de um candidato, e aumentam naturalmente o engajamento daqueles que participam pouco das redes sociais.
Há, porém, novas hipóteses que podem explicar outras ações coordenadas: 1) em eventos como entrevistas, viagens, palestras, o pré-candidato pede a um grande público para curtir ou compartilhar uma mensagem; 2) perfis coordenados que dão uma curtida e compartilham para em seguida sumirem por um tempo – só interagem uma vez com uma postagem por semana; 3) utilização de um detector de hashtags ou frases – que podem ser um “bom dia” ou “obrigado” – e que dispara curtidas de um número de usuários, os chamados “robôs” (facilmente programáveis).
Na medida em que a pré-campanha avança, os candidatos têm buscado obter uma vantagem numérica, seja pelo maior volume de seguidores ou de engajamentos nas postagens na comparação com seus concorrentes, como um símbolo de reiteração de “sucesso” percebido pelo grande público. Porém, o que se traduz em apoio ou votos, realmente, seria a capacidade de sensibilizar seguidores.
No mapeamento (ao lado) dos dados da semana para interações com Bolsonaro, que está no topo do ranking e tem uma das maiores bases de seguidores no Twitter, nota-se uma alta utilização de hashtags (a marcação de assuntos em tuítes com palavras que começam com o símbolo #), representadas pelos pontos claros na órbita mais externa da rede. Em seguida, vê-se um número muito elevado de pontos escuros, usuários que interagem esporadicamente com o conteúdo postado pelo pré-candidato, de tal forma que o “núcleo”, ou o centro da nuvem, que é composto das interações mais naturais, se torna pequeno.
No mapa dos dados (abaixo) de interação do ex-presidente Lula, o segundo colocado no ranking semanal de visibilidade, encontra-se um número menor de “leques” (menos densos), menos interatores de baixo engajamento, o que resulta em um núcleo maior do que aquele de outros candidatos. Essa topologia caracteriza maior público cativo, segundo os padrões de interação na rede. Como o componente semântico causa aproximação, é provável que interatores que estejam no centro (próximo dos candidatos) e com mais de 15 interações (que foi o critério utilizado), sejam mais reativos (ou sensíveis) às postagens daquele candidato. A área colorida pode indicar, portanto, um potencial de reação maior. Interatores posicionados na parte externa das nuvens seriam como as pessoas curiosas com a ciranda sendo dançada no centro do salão.
Nesta semana, foram analisadas 611.914 interações entre 299.989 usuários no ecossistema das eleições no Twitter.
Os mapas de relevância e visibilidade e de influência e afinidade dos pré-candidatos revelam os erros, acertos e os caminhos que podem ser feitos para ganhar relevância na rede.
A versão interativa e os mapas, que permitem analisar o engajamento e as trocas usuários e candidatos, está disponível para assinantes.
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