Logo vi que Ana, vendedora ambulante, estava atualizada com a modernidade da economia global. Ela recebia o pagamento das vendas que fazia em sua barraquinha com cartões de crédito de várias bandeiras. E olha que vendia produtos bem simples e baratinhos: caipirinha e tira-gosto, refrigerante e cachorro-quente. Achei interessante e fui conversar com ela.
Para minha surpresa, disse-me ser bem outra a razão: tinha receio de ser assaltada ao sair com as notas de real que, embora pouco somando pouco valor, eram sua suada arrecadação no fim do profícuo trabalho noturno. Andei mais alguns passos e me deparei com outro ambulante, vendedor de churrasquinho. Jean disse-se encantado com a eficiência das “maquininhas milagrosas” que enviavam seus lucros para a conta bancária sem maiores complicações.
Apesar de esses dois exemplos que me chamaram a atenção terem motivo digamos bem comum, tive a certeza de que havia mais razões para tal inovação. Saí daquela festa de rock, perto da Catedral de Brasília, com a impressão de que a circulação de dinheiro, dinheiro mesmo, nota viva, estava em desuso. Fiquei então com as cenas dos dois personagens, Ana e Jean, anotadas na memória.
Depois, viajando de automóvel para Goiânia, deparei-me com essa imagem aí, da barraquinha de uma senhora que vende frutas na beira da rodovia. Evidentemente, parei para conversar com dona Júlia. Mesmo distante dos grandes centros urbanos, ela não quer ficar fora do mercado comprador, no caso motoristas e passageiros que trafegam pela estrada.
Sabe que muitas vezes o cliente interessado em seus produtos não efetua sua compra por não ter dinheiro em notas de real e a há casos de falta de moedas para troco etc. Por isto, aderiu ao dinheiro eletrônico, por considera-lo mais objetivo prático para suas transações. Radiante, dona Júlia comemorava o sucesso de seus negócios creditando a boa performance à telefonia celular, a eficiência da Internet e do processo digital.
Depois, circulando pelas ruas de Brasília, dei de encontro com o Jonathan, de 22 anos, morador da periferia da Capital, e que garante sua sobrevivência como guardador de carros, flanelinha, no estacionamento de um grande centro empresarial no Setor Bancário Norte da cidade. Enquanto vigia os automóveis, um amigo faz o trabalho de lavá-los. O pagamento, ou melhor o recebimento de ambos, claro, é feito na maioria das vezes por meio do cartão de crédito ou de débito. Segundo diz, sua clientela prefere. E ele também.
Essa “nova” modalidade de transações comerciais dá maior movimento à economia em todos os estados do Brasil. E também em outros países. O que antes era privativo das lojas chiques e dos magazines dos shoppings, agora é de domínio popular.
Fui então dar atenção à pesquisa do Banco Central sobre a evolução do uso dos cartões eletrônicos no Brasil. Em 2013, praticamente 100% dos entrevistados declaravam que optavam por pagar em dinheiro vivo. Hoje, cinco anos depois, essa realidade mudou. E muito. A nova estatística indica que 22% das pessoas preferem agora efetuar suas compras com cartão de crédito. E 9%, de débito. O certo é que, segundo o estudo, está caindo cada vez mais a percentagem das operações de compra e venda com dinheiro vivo no comércio do Brasil.