Por Maria Luiza Abbott e Marcelo Stoppa
Depois de reinar absoluto nas redes sociais por um longo período, o deputado Jair Bolsonaro (PSL) começou a perder ritmo há três meses, com a entrada em campo das campanhas de outros pré-candidatos, segundo indicam os dados da pesquisa da AJA Solutions. Nesse período, três pré-candidatos relativamente pouco conhecidos, Manuela D’Ávila (PC do B), João Amoêdo (Novo) e Guilherme Boulos (PSOL) entraram efetivamente na disputa pela atenção dos usuários do Twitter e aumentaram sua relevância e visibilidade, reduzindo a do deputado.
No Facebook, Amoêdo e Manuela conseguiram aumentar o engajamento (curtidas e comentários) com usuários nos últimos três meses. No Twitter, a fatia de relevância de Bolsonaro está em 20% do total há cinco semanas, sem voltar aos níveis que ocupou até o começo de abril, e a do ex-presidente Lula vem oscilando bastante, tendo voltado a subir esta semana. No Facebook, caíram as fatias de Lula e Bolsonaro no total de engajamento em junho comparado a abril. No mês de junho, a fatia de Lula ficou em 31% e a de Bolsonaro, 29%, com alta expressiva da visibilidade de Amoêdo e Manuela em relação a abril no Facebook.
Os dados indicam que a prisão do ex-presidente, no dia 7 de abril, mudou a correlação da relevância dos candidatos nas redes sociais. A aparente inferência de que Manuela e Boulos seriam seus “herdeiros” – como mostra uma foto de Lula com os dois, antes da prisão, em São Bernardo, distribuída pelo PT – impulsionou a relevância deles nas redes. Também influenciou o engajamento de usuários com o próprio perfil de Lula e de Bolsonaro nas redes, pois gerou grande debate entre seguidores dos dois. Essa discussão entre os apoiadores dos dois vem caindo desde então, com a subida da relevância dos outros três – Manuela, Amoêdo e Boulos.
Amoêdo fortaleceu sua presença nas mídias sociais, posicionando-se como um político não tradicional, empenhado em lutar contra práticas condenadas – e a relevância dele cresceu, especialmente no Facebook. A estratégia de comunicação do pré-candidato do Novo tem alto grau de eficiência, segundo as métricas da pesquisa. Dependendo da ênfase e de possíveis ajustes de perfil, inclusive de imagem e narrativa dele, poderá ainda aumentar a relevância e o engajamento nas próximas semanas.
Os resultados da análise do Twitter na semana de 22 a 29 de junho mostram que a fatia de Bolsonaro no total de relevância ficou estacionada em torno de 20%. No outro extremo do espectro político, Lula, Manuela e Boulos, somados, ocupam uma fatia de, em média, 55%, que vem sendo dominada por Manuela e Lula.
Mesmo sem mudanças em sua fatia de relevância, na última semana de junho, Bolsonaro ficou em primeiro lugar no ranking dos pré-candidatos no Twitter. Manuela, que teve um desempenho excepcional na semana de 15 a 22, caiu fortemente, ficando em 2º, com uma diferença de dois pontos em relação ao deputado do PSL. A relevância perdida por Manuela foi “redistribuída” para o ex-presidente Lula e Boulos, que ficaram em 3º e 4º lugares no ranking.
Os quatro candidatos ficaram acima do patamar de relevância – piso de visibilidade para que os pré-candidatos consigam gerar diálogo em volume suficiente para que sua mensagem seja ouvida e tenha potencial para ser usada como instrumento de persuasão na busca de votos.
Também acima do piso o perfil do presidente Michel Temer, que novamente atraiu a atenção dos usuário e despertou muita zombaria, desta vez por seus tuítes em comemoração à classificação do Brasil para as oitavas de final na Copa. Os dois tuítes de Temer geraram mais de 2.7 mil comentários originais, dominados por críticas, ataques pesados e memes, que impulsionaram o perfil.
Amoêdo, o pré-candidato que está se posicionando como um representante da nova política voltou a subir na semana, mas continua abaixo do piso de relevância no Twitter.
Análise de redes e pesquisas de intenção de voto
A pesquisa semanal da AJA Solutions vinha apontando queda e estabilização da relevância de Bolsonaro no Twitter. A pesquisa do Datafolha divulgada em 10 de junho confirmou a desaceleração do pré-candidato do PSL que, segundo os dados, enfrenta também divisões regionais e de acordo com o nível de escolaridade.
Porém, o alto desempenho nas redes de Manuela – e de Boulos, em menor escala – não está sendo captado pelas pesquisas eleitorais, que continuam indicando baixa intenção de voto para ambos. Manuela aparece com 2% de intenção de votos em pesquisa do Datafolha e 1% de preferência dos eleitores em dois cenários, segundo a última pesquisa Ibope-CNI, divulgada no dia 28. Boulos tem menos de 1%, segundo Datafolha, e chega a 1% em um dos cenários Ibope-CNI.
Uma das razões para desempenhos tão diversos pode ser a diferença de tempo de atividade efetiva na rede. Manuela e Boulos despontaram em relevância nas redes no começo de abril, enquanto Bolsonaro acumulou um capital de visibilidade e relevância por ter lançado sua campanha nas redes muito antes dos dois. Paralelamente, o pré-candidato do PSL é favorecido pelo maior espaço que tem na mídia tradicional, que potencializa sua exposição e suas oportunidades de sensibilizar possíveis eleitores.
De acordo com as pesquisas eleitorais mais recentes, Bolsonaro iria para o segundo turno. Numa disputa com Lula, seria derrotado. Sem o ex-presidente, Marina Silva aparece como a principal adversária do deputado do PSL. Numa mostra de que a campanha dele está atenta, começaram os ataques à Marina no Twitter esta semana.
Com exceção de Bolsonaro, profissionais da política com alta relevância no mundo real não vêm conseguindo o mesmo destaque nas redes, sem o engajamento esperado e que sustente a relevância no mundo digital. Entre eles, além da própria Marina, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT).
Uma das métricas da pesquisa da AJA é o índice de eficiência, publicado semanalmente em nossos relatórios. Esse índice mede os resultados de cada uma das campanhas de comunicação digital, aponta erros e acertos e medidas que podem ser tomadas para reforçar a estratégia de busca pela relevância.
Por que analisar mídias sociais
As pesquisas de opinião apontaram para resultados imprecisos na eleição presidencial no Brasil em 2014 e outras, como a eleição nos Estados Unidos em 2016, o plebiscito para a saída do Reino Unido da União Europeia no mesmo ano, e a eleição no país em 2017.
Análises mais recentes do que aconteceu nesses países indicam que um dos fatores que surpreenderam os pesquisadores foi a influência das redes sociais na formação da opinião do eleitor. Por isso, houve mudanças na metodologia de pesquisas, e algumas passaram a incluir as audiências das mídias sociais para aferir resultados.
Foram analisadas esta semana 501.804 interações entre 259.911 usuários no ecossistema das eleições no Twitter. Os mapas de relevância e visibilidade e de influência e afinidade dos pré-candidatos revela os erros, acertos e os caminhos que podem ser feitos para ganhar relevância na rede. A versão interativa dos mapas está disponível para assinantes.
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