PIB em queda e inflação em alta, banho de água fria em Meirelles

A tal locomotiva da retomada do crescimento pós governo Dilma, pilotada pelo ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles até o início de março, quando ele deixou o cargo para assumir sua pré-candidatura à Presidência da República pelo MDB, perde cada vez mais velocidade e ameaça deixar na próxima estação o esvaziado vagão das pretensões do czar da economia do governo Michel Temer de sentar-se em sua cadeira no Palácio do Planalto, a partir de janeiro do próximo ano.

Essa parada na próxima estação ficou cada vez mais evidente com a divulgação, nesta segunda-feira (25), do boletim Focus do Banco Central, no qual economistas do mercado preveem um horizonte sombrio para a economia do país, com queda maior do PIB combinada com o aumento da inflação. Segundo o Focus, a previsão de crescimento do PIB para este ano caiu de 1,76% para 1,55%, enquanto a inflação subiu de 3,88% para 4%, um balde de água fria no candidato do MDB.

Além disso, a manutenção da taxa básica de juros em 6,5% decidida pelo Comitê de Política Econômica, na semana passada, muito acima da taxa de inflação, continua a inibir investimentos e contribui para manter o desemprego que atinge mais de 13,5 milhões de trabalhadores, resultado de duas quedas consecutivas do PIB de 3,5%, em 2015 e 2016, que o crescimento de 1% registrado em 2017 não foi capaz de recuperar.

Aprendiz de feiticeiro no mundo político, Meirelles ancorou suas aspirações na crença de que retirar o país da breve recessão que o país experimentou nos últimos dois anos seria suficiente para catapultá-lo à condição de candidato com potencial de ser o Fernando Henrique Cardoso de Itamar Franco para chegar ao segundo turno da eleição presidencial de outubro com chances de vencer o candidato da oposição.

Fernando Henrique, ex0ministro de Itamar e ex-presidente da República

(Para quem não se lembra, FHC foi o ministro da Fazenda no governo do presidente Itamar Franco (1992-1995), que lançou o Plano Real, estabilizando a inflação, em cujas ondas os tucanos surfaram para conquistar o poder pela primeira vez, na eleição de 1994. A segunda foi na carona na emenda da reeleição, em 1998.)

Meirelles também acreditava na manutenção da taxa de crescimento da economia, o que não se confirmou já a partir de janeiro deste ano, bem antes dele deixar o Ministério da Fazenda. O ex-ministro credita esse revés “às incertezas do ano eleitoral”, conforme repetiu nas entrevistas concedidas ao Roda Viva, da TV Cultura, e ao Canal Livre, da Rede Bandeirantes.   O pré-candidato do MDB, com aparente dificuldade de dicção, não se mostrou muito à vontade nas duas vezes que esteve diante das câmeras cercado por jornalistas, prevendo eu sua posição nas pesquisas vai melhorar no horário eleitoral quando ficar conhecido da população. “Quem me conhece vota em mim”, repetiu ele, remetendo para seu currículo de ex-presidente do Banco Central (nos dois governos de Lula) e de ministro da Fazenda de Temer, quando, nas duas oportunidades, colocou ordem na economia.

Seu desempenho nos dois programas de televisão foi criticado por emedebistas, que viram Meirelles apenas se promovendo sem defender o governo ou o legado de Temer, condição colocada pelo presidente e pelo grupo palaciano para permitir sua candidatura. Candidato dos sonhos do mercado, Meirelles está sendo rifada até mesmo pelo próprio presidente Michel Temer, que negocia a retirada de  sua pré-candidatura numa negociação com o DEM e com o PSDB, para defenestrar também a pré-candidatura do ex-governador Geraldo Alckmin e substituir os dois pelo ex-prefeito de São Paulo João Dória.

Geraldo Seabra é jornalista

 

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