Candidato póstumo ao Planalto, que anunciou e desistiu duas vezes de uma possível candidatura presidencial, Luciano Huck reapareceu no mundo político flertando dessa vez com Marina Silva, candidata à Presidência pela Rede. Sua última paquera fora com o PPS de Roberto Freire, mas também já recebeu um assédio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que chegou a dizer que o apresentador da TV Globo tinha o “perfil do PSDB”. Apesar do nome, que remete à malha usada pelos pescadores em alto mar, Marina não tem conseguido pescar alianças para sua Rede. Por mais que ainda apareça como um dos candidatos mais bem colocados nas pesquisas – numa eventual eleição sem Lula, obviamente -, Marina tem suas chances reduzidíssimas sem alianças que garantam tempo razoável na propaganda política na TV. Mesmo na era das mídias sociais, cada vez mais relevantes, infladas pelo mundo sujo das fake news, a boa e velha TV ainda tem grande peso na disputa por eleitores, especialmente os mais pobres.
Isso é agravado com a pulverização de candidaturas e o horário eleitoral ínfimo. Não por acaso Michel Temer vinha tentando consolidar uma candidatura de centro, antes de Henrique Meirelles se empolgar com a disputa – mesmo com a economia em pandarecos – , e Ciro Gomes sonhava ser o nome de centro-esquerda – agora manobrando rapidamente para a centro-direita. Geraldo Alckmin não decola, nem sai da moita, mas está tocaiado no PSDB. É a mosca morta na sopa partidária. Mas vai que algum candidato favorito o engole e, quando menos se esperar, o PSDB estará de novo com alguns ministérios em um governo qualquer – como fez durante boa parte da gestão Temer.
À espreita ficam legendas como PSD, PP, PSC, PR, SD, PTB, PRB e até PPS e DEM, que, nem com bola de cristal conseguem prever quem vai chegar na reta final do primeiro turno. Criaturas novas, como Podemos, de Álvaro Dias, e Novo, de João Amoêdo, seguem observando os desenhos das nuvens. Mesmo com os carismáticos Manuela D’Ávila e Guilherme Boulos – que sem dúvida estão projetando firmemente seus nomes nas redes sociais -, PCdoB e Psol também entendem seu papel de coadjuvantes na disputa presidencial.
De volta a Marina, hoje praticamente em voo solo, o que a preocupa é o fim da Copa. Nem tanto pelo sucesso ou fracasso da seleção de Tite, mas pelo início das convenções partidárias, onde as chapas se firmam. E onde entra o “Caldeirão do Huck” nessa salada partidária? Para a platéia, o objetivo do jantar Marina-Huck seria apresentar propostas do Agora!, movimento de “renovação política” – reforce nas aspas – do qual faz parte, para serem incorporadas pela ex-senadora em seu programa de governo. Na verdade, os dois se servem um do outro. Huck quer, mesmo sem ser candidato, fincar sua bandeira política. Em algum lugar. Como o título de um dos quadros de seu programa, ele precisa “Encontrar Alguém”. Até porque segue sonhando. Já a Marina, acredita ela, faria bem ser vista ao lado de Huck. Ele pode trazer apoios, mesmo sem encabeçar uma chapa. Quem sabe do PPS de Freire, sombra triste do extinto PCB.
Aliados dizem que Huck, por ora, não deve anunciar apoio oficial a nenhum pré-candidato, mas tem simpatia por Marina. Há poucas semanas, disse o contrário. “Você olha para política e vê um cenário de terra arrasada. Dos candidatos não tem ninguém que eu admire. Tem pessoas que você aceita”, disse o apresentador em um debate sobre eleições. Mas o que Huck fala, já aprendemos, não se escreve.