“Em nome do presidente Trump, peço à comunidade de nações livres, de todo esse Novo Mundo, que expulsem a ditadura de Maduro da Organização de Estados Americanos. (…) agora é o momento”.
Mike Pence, vice-presidente dos EUA, durante recepção com “nações afins”
A tara geopolítica pelos Estados Unidos, vinda de um governo em fase terminal, não tem explicação apenas no campo dos negócios. Tem algo de afetivo. Tão indisfarçável que, vendo a foto de Aloysio Nunes com Mike Pompeo, ex-diretor-geral da CIA e secretário de Estado americano, metendo os pés pelas mãos na soberania venezuelana, não dá pra não lembrar da clássica imagem do John Wayne com Maureen O’Hara no colo. Em defesa de Aloysio, diga-se, ele estava apenas com os ombros levemente encurvados, não chegou a fraquejar a coluna. Mas se a foto é simbólica, o que esses dois fizeram, com mais 17 votos a favor, 4 contrários e 11 abstenções, foi aprovar um torpedo diplomático chamado de “Resolução Mike Pence”. Assim, essa maioria de Estados-membros fez a outrora histórica Organização dos Estados Americanos (OEA) contestar, formalmente, o resultado das últimas eleições presidenciais na Venezuela, de 20 de maio, nas quais Nicolás Maduro foi reeleito. Danem-se os 200 observadores internacionais. O lobby americano só não foi suficiente para expulsar a Venezuela, como fizeram por aqui no Mercosul.
O isolamento cada vez maior imposto por este cartel de países à Venezuela não é só no verbo. Já não esconde uma intenção militar. Talvez um planejamento. A “Resolução Mike Pence” inclui a aplicação de “medidas que estimem convenientes a nível político, econômico e financeiro para coadjuvar o restabelecimento da ordem democrática na Venezuela” – o que, convenhamos, pode ser qualquer coisa que comece com “gol” e termina com “pe”. O próprio chanceler venezuelano Jorge Arreaza não teve dúvidas em dizer que os países que apoiaram a medida autorizaram, na prática, uma “opção militar contra a Venezuela” – medida que enche os olhos de Donald Trump. O governo venezuelano, que já havia começado seu processo de retirada da Organização em abril de 2017, anunciou que esta é a última Assembleia Geral da OEA da qual participaria.
As botinadas na Venezuela pelos guardiões da democracia no continente não tem, evidentemente, nada a ver com as urnas venezuelanas, que, por sinal, são recordistas de contar votos. Se a Venezuela é uma ditadura, como acreditam os Estados Unidos, junto com um tal Grupo de Lima, poderíamos listar aquelas hoje apoiadas pelos mesmos americanos mundo afora, e em outros tempos, desde que não afrontassem sua geopolítica. E nem atrapalhassem seu controle energético. Não por acaso, as principais retaliações de Trump são contra Maduro e seu grupo político, e não contra, por exemplo, suas empresas, que fornecem 10% do petróleo importado pelos Estados Unidos. O grave, por outro lado, é que o garrote americano aprofunda a crise humanitária no país sul-americano – que já sofre com desabastecimento, escassez de alimentos e uma escalada de violência. A migração de venezuelanos assustados para a fronteira brasileira tem sido uma das justificativas para a “preocupação” do governo Temer com o vizinho bolivariano. Pompeo prometeu ajudar. Imagina-se como.
E o Brasil – que trocou o Pré-Sal pelo No-Sal -, rebaixa sua diplomacia e coloca-se como um gaiato no navio de assalto americano. Ex-candidato a vice de Aécio Neves, o senador do PSDB, esquecido pelo partido no ministério Temer, está apenas seguindo a ordem unida. A iniciativa promovida por Washington e apresentada por Argentina, Brasil, Canadá, Chile, México e Peru, pede a aplicação dos mecanismos da Carta Democrática Interamericana por “alteração da ordem constitucional” na Venezuela. É trágico, talvez até triste, que Aloysio tenha feito, certamente com valentia, oposição armada à ditadura implantada com a ajuda do agora país irmão, lutando pela Ação Libertadora Nacional (ALN).