“É absurdo dividir as pessoas em boas e más. As pessoas ou são encantadoras ou são aborrecidas”.
Oscar Wilde
Titular da Fazenda do presidente Michel Temer até abril, parte do dream team econômico que, depois do impeachment de Dilma Rousseff, em agosto de 2016, prometia levar o país à terra prometida – via “ponte para o futuro” -, o agora ex-ministro Henrique Meirelles (MDB) quer “tirar o rótulo” de candidato do governo à Presidência da República. Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o candidato furta-cor disse com todas as letras o que já vinha insinuando em rodinhas de canapés: não “representa especificamente” o governo Temer e, sim, seu currículo pessoal e sua atuação na iniciativa privada e no setor público. “Estou tirando o rótulo. Não sou o candidato do mercado, não sou o candidato de Brasília. A minha proposta é a proposta do meu histórico”, costurou. É mais fácil tirar todos os selos de certificação JBS das carnes brasileiras – grupo que o ex-ministro conhece muito bem – do que arrancar esse rótulo costurado na pele de Meirelles.
O extreme makeover não deve ter saído da cabeça de Meirelles, certamente foi ideia de algum marqueteiro nível Elsinho Mouco -ou o próprio, já que no mês passado Temer, logo depois de desistir da reeleição, escalou seu publicitário de estimação para ajudar o candidato do Planalto. Meirelles, que também já esteve vinculado ao PT, no comando do Banco Central, deve acreditar que sua figura híbrida o permite mudar de cores como uma espécie de camaleão político. No momento, quer mesmo é descolar de Temer 4% e quem sabe escapar da sina de candidato margem de erro.
Neto e sobrinho de políticos goianos, Meirelles, nascido em Anápolis (GO) em 1945, formou-se em engenharia e estudou administração na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Passou muitos anos no mundo corporativo, entrando na década de 1970 no BankBoston, onde construiu uma carreira bem-sucedida nos EUA, chegando a presidente mundial do banco. Mas só no início dos anos 2000 decidiu entrar de fato na vida política brasileira, filiando-se ao PSDB. Em 2002, foi eleito deputado federal em Goiás pelo PSDB com o maior número de votos no estado – 183 mil votos.
Em 2003, renunciou ao cargo de deputado federal em Goiás, desfiliou-se do PSDB e assumiu a presidência do Banco Central do Brasil , onde ficou até 2010. À frente do BC, ele entregou por três anos a inflação abaixo do centro da meta oficial e adotou uma política que elevou as reservas internacionais em US$ 250 bilhões. No fim do segundo mandato do presidente Lula, Meirelles filiou-se ao PMDB – hoje MDB -, não antes de namorar bastante com o PP. Era Meirelles quem Lula tentava impor, sem sucesso, a Dilma como único capaz de promover a reviravolta na economia que ajudaria a salvá-la do impeachment. No currículo quebra-cabeças de Meirelles há uma peça curiosa: a convite da presidente Dilma Rousseff, assumiu o cargo no Conselho Público Olímpico. Percebeu que era um dois de paus e saiu um ano antes dos jogos.
Como a economia não decolou, Meirelles não quer sequer ser o candidato do mercado. Afinal sua pré-campanha como ministro da Fazenda só deixou terra arrasada. Como fugir do óbvio parece difícil, Meirelles poderia surpreender todo mundo e se declarar marxista-leninista, costurar uma aliança com Boulos e Manuela e torcer para, na hora da verdade, Lula escolhe-lo como seu nome para uma frente de esquerda contra os reacionários de direita e os banqueiros sanguessugas.