Estava em Lisboa com um grupo de colegas jornalistas, depois de cobrirmos a visita de um presidente brasileiro a Portugal. Fomos almoçar no tradicional restaurante Floresta do Ginjal, em Almada, na margem esquerda do Tejo. Para lá chegar, fomos ao Cais de Santa Apolônia e tomamos uma das barcas que fazem a travessia do belo rio que entrecorta a aprazível e acolhedora “velha cidade, cheia de encantos e beleza”, como diz a canção cantada por Amália Rodrigues.
Foi de lá, da janela do Restaurante Ginjal, que vi essa cena inusitada: um submarino singrando as águas do mais famoso Rio Tejo, com a vista da capital lisboeta ao fundo.
Cá pra nós, um submarino submerso nas águas de um rio não é algo comum. Porém, vale frisar que o Tejo não é um rio qualquer. De lá, da Torre de Belém, partiram grandes navegadores e esquadras de caravelas que expandiram o mundo, inclusive a de Pedro Álvares Cabral, que descobriu o Brasil, nos idos de 1500.
Enquanto fazia essa foto, lembrava-me da poesia assinada por Alberto Caeiro, um dos heterônimos do escritor lusitano Fernando Pessoa:
Pelo Tejo vai-se ao mundo
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
Alberto Caeiro
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OrlandoBrito