O acampamento Lula-Livre, em Curitiba – um grupo de militantes que não arreda o pé desde a prisão do ex-presidente no dia 7 de abril -, já levou pedras, tiros, sofreu ameaças e teve de mudar de lugar, deixando o entorno da Superintendência da Polícia Federal. Desde 17 de abril, os manifestantes pró-Lula acampam em um terreno alugado de 1.600 metros quadrados, a 800 metros de distância da PF. Ainda assim, mantiveram uma tradição. O grito de “Bom dia, Lula”, que repetem todas as manhãs. É possível que Lula não ouça. Mas alguém se sentiu incomodado.
O delegado da Polícia Federal Gastão Schefer Netto, que deve morar na vizinhança, quebrou, na manhã desta sexta, 4, o equipamento de som usado pelos petistas. Descontrolado, o delegado chegou a ser contido – mas não detido – por policiais militares que ficam no entorno do acampamento. A maior preocupação dentro do acampamento era evitar o revide e não cair na provocação.
Segundo relato de petistas, que gravaram imagens do delegado, ele invadiu o acampamento e quebrou o equipamento de som no momento em que se preparavam para o grito de “Bom dia, Lula”. A deputada federal Ana Perugini (PT-SP) e a deputada estadual Márcia Lia (PT-SP), que testemunharam toda a ação, estiveram com a Superintendência e a Corregedoria imediatamente após o ocorrido. A deputada estadual Rosangela Zeidan (PT-RJ) também estava no ato no momento. Será registrado ainda um Boletim de Ocorrência. Segundo Márcia Lia, o delegado disse estar nervoso e com dificuldades para dormir.
O perfil do delegado Gastão Schefer no Facebook revela muito sobre sua personalidade – o que não chega a ser uma exceção entre delegados da PF e procuradores do MP, já flagrados nas redes sociais demonstrando postura anti-petista. A obsessão contra Lula, por sinal, fica evidente em dezenas de posts. O último é um deboche com a prisão do ator Fábio Assunção, autuado por embriaguez ao volante. “Se Fábio Assunção fosse branco e rico, não teria sido preso. Ele é perseguido por ser PT”, ironizou o delegado, fazendo a festa de seus seguidores. Em outro post, o delegado pergunta: “Alguém sabe diferenciar eleitor do PT e do PSOL?”. E publica a resposta: “Joga um capim. Se comer é PT, se fumar é Psol”. Não vale a pena reproduzir a detestável linha do tempo do delegado, mas ficam evidentes seus preconceitos e problemas. E sua aversão ao acampamento pró-Lula. “Defensores da liberdade do Lula tiram a liberdade da vizinhança”, escreveu em post recente. Depois que o delegado quebrou o equipamento de som, porém, seu perfil foi invadido por dezenas de internautas criticando seu momento de fúria. “O cão do fascismo acordou no cio e deu piti”, escreveu um internauta.
É possível descobrir no seu perfil, por exemplo que Schefer frequenta a mesma Igreja Batista Do Bacacheri, de Curitiba, do procurador Deltan Dallagnol, que curte música sertaneja, que torce para o Coritiba, que defende o porte irrestrito de armas e que tem saudades da ditadura militar. Ele recomenda, por exemplo, a leitura do livro “Golpe de 1964 – O que os livros de história não contaram”, que mostra “aquilo que a esquerda não quer que você saiba”. Em outro post, ele coloca uma galeria dos presidentes-ditadores pós 64 e escreve: “Feliz aniversário! Muito obrigado!”. Schefer também é um curitibano com orgulho. Em um post reproduzido do Movimento República de Curitiba, é possível ver uma paisagem da linda capital paranaense e a frase. “Curitiba é linda. Para quem não está preso”. Agora tente adivinhar o candidato do delegado a presidente. É só prender a respiração e entrar em sua galeria de fotos.