Os escombros do edifício Wilton Paes de Almeida, de 24 andares, que pegou fogo e desabou na madrugada de terça, 01/05, no Largo do Paissandú, no Centro de São Paulo, deixando vítimas – não tinha condições mínimas de segurança contra incêndio -, tem um paralelo terrível, e inevitável, com os escombros do governo Temer.
Não espere ver esse ângulo com destaque na mídia, que tem seus próprios critérios jornalísticos, mas como aqui cumprimos o papel de noticiar o que é notícia, não é possível, depois de assistir pela décima vez aos vídeos que viralizaram nas redes sociais, não tratar das imagens constrangedoras, exibidas em vários ângulos, de Michel Temer sendo expulso do local. Não se sabe que assessor deu a brilhante ideia a Temer, 3% de popularidade, de ir in loco aos restos do prédio que era ocupado por famílias de sem-teto. O ambiente era hostil. Não se sabe se Temer sonhava mesmo em tirar algum proveito do gesto de solidariedade, como sonha, por exemplo, em ser eleito presidente. O que se conseguiu foi produzir uma dessas imagens definitivas sobre o fim de um governo.
Nada justifica uma agressão – nem mesmo a um ex-presidente impopular. Por mais raiva que se possa ter de um homem que chegou à Presidência como ele chegou. Do que fez o que fez depois disso. E do que está fazendo para eleger seu sucessor. Na rápida entrevista que concedeu a veículos de imprensa pouco antes de começar a ser hostilizado, Temer disse que iria “providenciar assistência” às vítimas. Ele ainda confirmou que o prédio pertencia à União – estava há pelo menos dez anos abandonado. Depois disso, Temer ensaiou uma caminhada pelo local, até ser pego por uma chuva de xingamentos e até objetos atirados contra ele.
“Ladrão! Golpista! Vagabundo! Vai embora, seu FDP! Fora!”, foram os gritos mais audíveis. Um carro de bombeiros parado ao lado ajudou, involuntariamente, a fazer a barreira. Cientes do perigo de manter o presidente ali, seguranças o escoltaram velozmente de volta ao carro oficial – com placa descaracterizada -, que acelerou para longe. Foram pouco mais de três minutos de visita. Poderia ter ocorrido algo grave ali.
Há muitas filmagens – de emissoras de TV e de celulares de pessoas presentes. A mais contundente delas acompanha Temer de frente, e é possível ver o medo estampado em seu rosto. Seguranças tentavam protegê-lo como podiam, inclusive levantando uma pasta preta – que se abriu – para proteger seu rosto, nos segundos finais antes de entrar no carro. Algumas pessoas ainda deram tapas contra a lataria e os vidros do veículo, quando ele arrancava. Os PMs presentes estavam visivelmente tontos com a cena, e corriam sem ordem tentando abrir passagem ao carro. Temer não foi atingido, nem se machucou.
Horas mais tarde, Temer divulgou nota, por meio de sua assessoria, afirmando que determinou ao ministro da Integração Nacional, Antonio de Pádua, “o empreendimento de todos os esforços para minimizar os danos causados por conta do incêndio”. Nada foi dito sobre a recepção hostil ao presidente. Temer estava em sua residência pessoal em São Paulo para passar o feriado do Dia do Trabalho e disse que não poderia deixar de ir ao local do desabamento.
Você pode acreditar que Temer foi hostilizado apenas por parte das 150 famílias pobres que viviam ali, e estavam no local quando o presidente chegou – ainda há muitos desaparecidos, que podem estar mortos. Ou você pode acreditar que aquelas pessoas representavam boa parte do país. A decisão é sua.