Ao infinito, e além. Assim caminha o temido inquérito que investiga supostas irregularidades no Decreto dos Portos, e que tem o presidente Michel Temer entre os principais investigados. Depois de resistir, em 2017, a um alto custo político, a duas denúncias no Congresso, uma por obstrução da Justiça e organização criminosa e outra por corrupção passiva – patrocinadas pelo ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot -, Temer receava passar o resto do mandato tentando se livrar da terceira flechada desferida pelo MP, que sairia do arco de Raquel Dodge.
A Polícia Federal, sob nova administração – Fernando Segóvia foi degolado ao dizer que não daria em nada a investigação que atazana o mandatário devido a um decreto com mimos ao setor portuário -, enviou ao Supremo pedido de prorrogação de prazo, por mais 60 dias, para concluir o caso. Obra e graça da nova gestão de Rogério Galloro, o mesmo que disse na cerimônia de posse que, em sua gestão, a operação Lava Jato “continuaria forte”.
Em tese, a PF quer mais tempo para poder analisar os dados da quebra de sigilos e as informações obtidas na Operação Skala, deflagrada no final de março, que prendeu temporariamente pessoas ligadas a Temer, como o ex-assessor presidencial José Yunes e o coronel aposentado da Polícia Militar João Baptista Lima Filho. Parece mais do que justo, certo? Sim, justo para quem quer empurrar o caso para o fim do mandato, reacendendo para os aliados o sonho de uma candidatura presidencial de Temer. O pedido de prorrogação foi feito pelo delegado Cleyber Lopes, responsável pelo caso. Caberá ao ministro Luís Roberto Barroso, relator do caso, analisar o pedido. Antes de tomar uma decisão, ele pediu um parecer da procuradora-geral Raquel Dodge. A última prorrogação foi determinada por Barroso em fevereiro.
Há dez dias, A Justiça Federal de Brasília autorizou que 42 testemunhas sejam ouvidas na ação penal sobre o chamado “Quadrilhão do PMDB”, em que amigos de Michel Temer, entre outros, são acusados de operar propinas em favor do partido e do próprio presidente atuando numa “organização criminosa”. As pessoas que serão ouvidas são, na maioria, delatores: ao menos 36 aparecem como “colaboradores” da Operação Lava-Jato nos registros do processo. O pedido para que eles sejam ouvidos partiu do Ministério Público Federal no Distrito Federal e foi deferido pelo juiz Marcus Vinicius Reis, da 12ª Vara.
Em maio de 2017, um decreto assinado pelo presidente Michel aumentou o prazo das concessões das áreas portuárias de 25 anos para 35 anos, com chance de prorrogação por até 70 anos. O inquérito foi instaurado a partir dos depoimentos de Joesley Batista e Ricardo Saud, executivos da J&F, controladora da JBS, que fizeram delação. De acordo com as investigações, a empresa Rodrimar, que atua no Porto de Santos (SP), teria sido a maior beneficiada. Temer e a empresa negam a acusação. Na semana passada, Joesley Batista e Ricardo Saud prestaram depoimento à PF para dar mais detalhes sobre o caso.
Com a PF chutando o prazo do inquérito para bem longe, Temer está sendo convencidos por aliados a até retomar a ideia de uma campanha, mesmo que hoje apareça com 1% das intenções de voto e tenha aprovação beirando os 4%. Mas o que é a vida sem otimismo, não é mesmo? Neste sábado, 28, Temer desembarcará em Uberaba, no Triângulo Mineiro, refazendo pose de candidato. É a 84ª edição da Expozebu, feira que deve receber 300 mil pessoas. Se não levar uma estrondosa vaia, Temer terá passado por um teste de força. Na segunda, 30, Temer seguirá em território ruralista e irá a Ribeirão Preto para a abertura da 25ª Agrishow, feira internacional de tecnologia agrícola.
Surrado nas pesquisas, Temer já não está sozinho, como se sabe, como pré-candidato do MDB. Seu ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, também tenta se viabilizar, nem que seja como vice em dobradinha com Geraldo Alckmin, do PSDB, segundo a aposta mais recente. O problema é que os dois juntos, nas pesquisas, hoje, mal conseguem escorregar do fundo do poço.