No Brasil pré-Lava Jato, Demóstenes Lázaro Xavier Torres era um paladino da Justiça. Em 2012, foi um dos personagens de uma reportagem da revista Veja, intitulada “Os mosqueteiros da ética”, que o mostrava, numa montagem hoje risível, ao lado de espadachins da moral como Jarbas Vasconcelos e Fernando Gabeira. A mídia, já naquela época, precisava de heróis fora do nicho petista. O “mosqueteiro da ética”, com um discurso construído em torno do falso moralismo, se enrolou nas próprias pernas. A mídia provou, em reportagens como da revista Época, com a participação do hoje divergente Andrei Meireles, que a organização criminosa comandada pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira, conhecida pela corrupção de agentes públicos e políticos, aproveitou-se do prestígio do então senador Demóstenes Torres, então do Democratas, para tentar influenciar decisões judiciais. Mais sujo do que poleiro de pato, Demóstenes foi cassado pelo Senado e impossibilitado de concorrer a uma novo mandato até 2027. Ou seja, foi liquidado para a política. Pelo menos até esta terça, 17, quando a Fada Mágica do Supremo veio com sua varinha de condão e – plim! – reabilitou o mosqueteiro.
Foi assim, como quem realiza um sonho, que a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, composta por cinco ministros, decidiu por 3 votos a 2 que o ex-senador cassado poderá se candidatar ao Senado nas eleições deste ano (!). No no fim de março, o ministro Dias Toffoli já havia ensaiado a anistia, ou seja, permitiu, liminarmente, que ele se candidatasse na eleição de 2018. Agora a decisão ganhou caráter definitivo. Em seu favor, Dias Toffoli lembrou que a Segunda Turma já tinha anulado, em 2016, as provas contra Demóstenes sob alegação de que foram interceptações telefônicas feitas sem autorização do Supremo. O voto do relator foi seguido pelo ministro Ricardo Lewandowski, que descartou que a cassação tenha efeito eleitoral automático. O ministro Gilmar Mendes deu o terceiro voto para liberar Demóstenes a disputar a eleição de 2018, formando maioria. Foram contra o decano Celso de Mello e Edson Fachin. A lógica da dupla vencida: não cabe ao Supremo contrariar o entendimento do outro poder – no caso, votação que, em julho de 2012, cassou Demóstenes por 56 votos a 19.
Então, é isso, eleitor goiano. Com as graças do Supremo, Demóstenes está de volta. Agora é contigo saber se ele merece voltar ao reino encantado da política.