“Fale mal
Mas fale de mim
Não faz mal
Quero mesmo assim
Você faz cartaz pra mim
O despeito seu
Me põe no apogeu”
Ataulfo Alves
Nesta quarta, 11, o ex-presidente Lula completa quatro dias preso na superintendência da Polícia Federal de Curitiba. Embora detido, do lado de fora o petista segue dominando as narrativas. Numa estratégia vista como ousada, o PT concentra seus esforços transferindo a direção política do partido para Curitiba e mantendo um acampamento a poucos metros do prédio onde Lula está preso, numa sequência de atividades que na véspera incluiu uma visita frustrada de 9 governadores ao presidente, não autorizada pela Justiça local. É tão intenso o noticiário sobre sua prisão que, embora não possa fazer campanha ou receber seu amigos políticos, Lula tem aparecido mais do que nas caravanas políticas pelo país. Há quem sustente, no marketing político, que, embora não seja bom estocar notícias ruins, se alguém já tem uma imagem suficientemente consolidada, todo holofote faz bem. Quem sabe passar como vítima. E ser redimido. Pior, no mundo político, dizem os entendidos, é o oposto: o esquecimento e o ostracismo. Uma pesquisa quantitativa, feita em cinco dos mais influentes jornais do país – O Globo, Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo, Valor Econômico e Correio Braziliense -, com os nomes dos principais candidatos, permite traçar um ranking de quem é o mais citado na mídia – lembrando que o levantamento não mede a qualidade da citação, mas a quantidade de menções. Assim, entre 8 e 11 de abril, período posterior à prisão de Lula, esses cinco veículos citaram Lula 384 vezes, seguido de Bolsonaro (40 – quase dez vezes menos), Rodrigo Maia (39), Henrique Meirelles (30), Ciro Gomes (29) e Joaquim Barbosa (24).
Se pegarmos um período anterior, de 01 de janeiro a 07 de abril, nesses mesmos veículos, veremos que a hegemonia do ex-presidente se repete: Lula (4.400 menções nessas mídias), seguido de Rodrigo Maia (1.275), Henrique Meirelles (1.115), Bolsonaro (810), Ciro Gomes (416) e Joaquim Barbosa (187). Nestes casos, Maia é catapultado não pela cobertura presidencial, mas pelas votações no Congresso, assim como Meirelles é majoritariamente tratado por suas ações como xerife da Fazenda. Lula segue, mesmo preso, como o nome do PT na corrida presidencial, pelo menos enquanto sua candidatura não for impugnada. Por essa razão, ele seguirá aparecendo nas pesquisas, segundo os institutos.
Neste meio tempo, os demais candidatos movimentam-se buscando ocupar espaços na mídia – nem sempre com fatos positivos. Geraldo Alckmin, que perdeu o foro privilegiado ao deixar o governo de São Paulo para entrar de vez na campanha, terá o inquérito contra ele, na Lava-Jato – denúncias de caixa dois envolvendo o tucano e a empreiteira Odebrecht -, transferido do Superior Tribunal de Justiça para a primeira instância. De cada dez notícias sobre Alckmin hoje, nove tratam disso. Quando teve chance de sair das cordas, Alckmin mirou o deputado-capitão Jair Bolsonaro. Para o tucano, candidaturas como a de Bolsonaro (PSL) estão infladas pelo desconhecimento da população sobre as eleições. “A população nem começou a pensar no processo eleitoral”, disse Alckmin. Analistas acreditam que o ex-governador tem menos chances agora do que durante a eleição presidencial de 2006, quando concorreu pela última vez. Além do PSDB estar mais dividido, perdeu espaço em um estado estratégico, Minas Gerais, em consequência dos processos enfrentados pelo senador Aécio Neves, cuja imagem política implodiu.
Há poucos dias longe do cargo, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles ganhou holofotes apenas na posse de dez novos ministros no Palácio do Planalto. Ao empossar o novo condutor da política econômica, Eduardo Guardia, o presidente Michel Temer aproveitou a deixa para redobrar elogios ao pré-candidato do MDB à sucessão presidencial. Temer procurou afagar Meirelles, que saiu descontente na semana passada da cerimônia que o MDB preparou para sua filiação. “Você nos deixa como um dos melhores ministros da Fazenda que o Brasil já teve”, disse Temer sobre Meirelles.
Líder em pesquisas de intenção de voto para presidente quando o petista é excluído, o ex-capitão do Exército se esforça para soar mais palatável ao eleitor moderado. Quando Lula foi preso, publicou em redes sociais uma bandeira do Brasil. “A resposta da Justiça foi positiva para um futuro candidato que quer levar o Brasil a sério a partir do ano que vem”, escreveu. Calculando que Lula estará fora da eleição, o grupo de Bolsonaro mira agora uma polarização com Ciro Gomes (PDT), em estratégia para atrair o eleitorado que não quer a esquerda no poder. Ciro foi a ausência mais sentida no último palanque de Lula, antes de se entregar – onde estavam o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Guilherme Boulos, do Psol, e Manuela D’Ávila, do PCdoB, além do ex-prefeito Fernando Haddad. Ciro, que recentemente disse que não seria um “puxadinho do PT”, já não é visto como um possível nome para liderar uma frente de centro-esquerda. E ainda cai nas ciladas do MBL.
Possível fato novo na disputa depois de se filar ao PSB, Joaquim Barbosa tem dificuldades de ocupar espaço na mídia já que não se define se vai ou racha. Já o problema de Rodrigo Maia, do DEM, é que, assim como o eleitor que o despreza nas pesquisas, o mundo político não comprou sua candidatura. O Planalto adoraria que Maia, presidindo a Câmara, priorizasse as votações da reoneração e da privatização da Eletrobras. Não tem motivos para ficar animado.
Já Marina Silva, tem aparecido tão pouco no noticiário que é difícil ter certeza de que está em campanha. Pior. A ofensiva do Rede para atrair os senadores Cristovam Buarque (PPS-DF) e Reguffe (sem partido-DF) para a legenda não funcionou e a pré-candidata do partido pode ficar fora dos debates de presidenciáveis realizados por emissoras de rádio e televisão. A sigla conta com apenas três parlamentares no Congresso – os deputados Miro Teixeira (Rede-RJ), João Derly (Rede-RS) e o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) – , dois a menos do que o número mínimo exigido para que os candidatos à Presidência garantam sua participação nos debates eleitorais. Outro com pouquíssimo espaço na mídia é o senador Álvaro Dias (Podemos), pré-candidato à Presidência, que resiste a uma sondagem para ser vice de Alckmin. Quando lhe dão o microfone, defende “uma ruptura com o sistema vigente” e o que tem chamado de “refundação da República”. “Vamos zerar e começar tudo de novo”, disse. Seja lá o que isso signifique.