A contagem regressiva para a prisão de Lula já começou. Foi criado um ritual com ares de Via Sacra para a prisão do presidente mais popular da história do país. Não haverá cruz, ao menos não física, e, segundo o Pretório Sérgio Moro, nem algemas. A Paixão de Lula, que começou de madrugada, uma noite possivelmente insone passada dentro do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, terá seu momento Monte das Oliveiras às 16h, uma hora antes do prazo fixado para sua prisão. Neste momento, de alguma sacada ou palanque improvisado, Lula falará aos militantes que se aglomeram em grande número num cerco ao sindicato. Estará ao lado da ex-presidente Dilma Rousseff e dos presidenciáveis Guilherme Boulos (PSOL) e Manuela D’Ávila (PCdoB), entre outros aliados. Se nada de novo ocorrer no impresivível campo jurídico, serão as últimas palavras de Lula livre. É possível imaginar que, caso o discurso se alongue, como é comum, possa ser preso ali mesmo.
O pronunciamento derradeiro de Lula foi confirmado pelo presidente estadual do PT, Luiz Marinho, e terá um tom de indignação, mas, imagina-se, também de pacificação. Desde que decidiu não se entregar na sede da Polícia Federal em Curitiba, como ordenou Moro, Lula fez uma aposta complicada. De um lado, escolheu como quer aparecer, e ao lado de quem, no momento em que for levado pelos agentes da Polícia Federal. Será a imagem do ano – e todos sabem disso. De outro, caso a situação saia de controle, Lula poderia, teoricamente, ser responsabilizado por incitar a violência.
Reunido no segundo andar do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, o ex-presidente Lula ouve a todos. Advogados do ex-presidente e uma fatia do PT –incluindo ex-ministros– insistem para que ele se apresente à PF em um demonstração de boa vontade com o Judiciário. Que não seja em Curitiba, seja em São Paulo – a 22km de distância. Já os movimentos de esquerda e uma ala do PT –entre eles os líderes Paulo Pimenta e Lindbergh Farias– pregam resistência. Guilherme Boulos é um dos porta-vozes dessa proposta. “Vamos resistir”, diz ele. A Articulação de Esquerda, corrente minoritária petista, divulgou documento em que propõe a formação de barreira humana para impedir a prisão do ex-presidente. Como se vê, só Lula poderá, com a força de suas palavras, evitar algo pior.
A Polícia Federal, embora negue, já deve ter escolhido os agentes que enviará ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC para prender o ex-presidente Lula. Delegados afirmam que se Lula de fato não se apresentar, haverá uma avaliação constante para definir o melhor momento de realizar a prisão. Por precaução, foram colocadas de prontidão equipes do GPI (Grupo de Pronta Intervenção). O COT (Comando de Operações Táticas), sediado em Brasília, também está de sobreaviso.
O ex-presidente aguarda resultado de um novo pedido de habeas corpus feito pela defesa, dessa vez ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Há um fio de esperança. Tão tênue quanto o quadro político nacional.