A Lava-Jato completa quatro anos de atuação. Pelo que informam os procuradores e delegados que compõem a chamada força-tarefa da operação, deve intensificar as investigações já existentes em vários estados e que envolve nomes importantes do cenário da política e do empresariado.
Segundo Deltan Dallagnol, procurador da República no estado do Paraná e um dos mais atuantes executivos da operação, talvez a grande ameaça à Lava-Jato seja a possibilidade de não haver prisão dos condenados em segunda instância, em discussão no Supremo Tribunal Federal: – Corrupção sistêmica precisa de resposta sistêmica, diz.
Nesses quatro anos de existência, muita gente famosa foi presa, principalmente políticos empresários. Cento e sessenta homens e mulheres foram condenados, com penas que somadas chegam a quase dois mil anos de cadeia. Aliás, a abrangência da Lava-Jato foi tão grande nesse período que todas as operações contra a corrupção, mesmo que em foros e cidades diferentes, ganharam seu nome.
Você sabia? Um posto de gasolina localizado no Eixo Monumental de Brasília — situado bem perto da Torre de Tevê e a dois quilômetros da Praça dos Três Poderes — deu origem à Operação Lava-Jato. Ou seja, inspirou o nome do conjunto de ações executadas pela Polícia Federal motivadas pela Procuradoria-Geral da República, o Ministério Público, e que levou à prisão de vários figurões por crimes de corrupção.
No ano de 2009, autoridades da Justiça deram início ao inquérito número 714/2009, após receberem denúncias de movimentação de ilícitos abrangendo mercado ilegal de câmbio, tráfico de drogas, extração de pedras preciosas em terras indígenas e superfaturamento de contratos da Petrobrás. Investigações preliminares davam indícios de que o então deputado federal pelo Paraná, José Janene, estava à frente de tais atos e, por essa razão, era suspeito.
Constatou-se então que além de Janene – envolvido no Escândalo do Mensalão, em 2005, e que viria morrer no em 2010 – também um doleiro fazia parte do grupo. Era Alberto Youssef. Como eles elegeram para ponto de reunião o tal posto de gasolina onde funcionava um sistema de lavagem de carros, os federais batizaram a operação com o nome de Lava-Jato, uma associação ao crime de lavagem de dinheiro.
No mês de março de 2014, à medida que o trabalho da polícia foi se aprofundando, constatou-se que um grupo de senhores se reunia no tal posto de abastecimento, onde funcionava um serviço de lavagem de automóveis, em frente ao Setor Hoteleiro Sul da capital do Brasil. Com a descoberta de uma enxurrada de casos que as investigações posteriores ofereceram, a operação foi então batizada com o nome definitivo de Lava-Jato.
Ganhou a simpatia das ruas e, claro, a ojeriza dos envolvidos e seus partidários. A Lava-Jato familiarizou para a população termos antes praticamente conhecidos somente pelos conhecedores dos assuntos da Justiça: delação premiada, condução coercitiva, prisão preventiva e domiciliar etc. Deslindou nomes, arrasou perfis. Revelou novos personagens para o dia-a-dia e a mídia. Resultou em prisão de empreiteiros, empresários, políticos, dirigentes sindicais. Até governadores, o caso de Sérgio Cabral, do Rio.
De lá para cá, muita coisa mudou. A presidente Dilma Rousseff sofreu impeachment e sem sua cadeira está hoje seu vice, Michel Temer. O Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, cumpriu seu mandato e para substitui-lo foi escolhida a magistrada Raquel Dogde. A própria Polícia Federal trocou o comando. Saiu Leandro Daiello e entrou Fernando Segóvia. Saiu Segóvia e agora entrou Rogério delegado Dalloro. No começo do ano passado, morreu o ministro do Supremo, Teori Zavascki, a quem coube a condução de vários processos. E o Japonês da Federal, o agente Newton Ishii, que tornou-se personalidade conhecida da população por aparecer ao lado dos presos em sua chegada a Federal de Curitiba, aposentou-se.
De 2009 até hoje a Operação Lava-Jato — que tem à frente o juiz federal Sérgio Moro, sediado em Curitiba — teve desdobramento gigantesco, com inúmeras ações do Polícia Federal autorizadas pelo Ministério Público. Foram mais de mil mandados de busca e apreensão que resultaram em bilhões de reais recuperados para os cofres públicos.
O enorme e variado rol de crimes, incluindo propinas, superfaturamento de obras, facilitação de negócios, compra de projetos legislativos, contratos fajutos, corrupção, enfim, tiveram consequências práticas e objetivas: investigou, prendeu, processou e condenou uma enxurrada de empresários, funcionários, deputados, senadores, ex-ministros.
Ninguém, porém, podia prever naquela época o desfecho da Operação Lava-Jato. Com o desenrolar das investigações, os delitos que aparentemente pareciam ser “somente” aqueles, vieram chegar ao ponto em que hoje estão, com dezenas, centenas de envolvidos do alto escalão de várias áreas da República. E milhões e milhões de dólares e reais como razão de tudo.
A Lava-Jato, portando, produziu e continua produzindo resultados. É só conferir a lista de nomes de importantes envolvidos e condenados. E a variedade de crimes e lances parecidos com ficção. Por exemplo, o ex-deputado arrastando uma mala de dinheiro na noite de São Pulo. E a descoberta de várias malas no apartamento de um ex-ministro, ex-deputado e ex-diretor da Caixa com cinquenta e um milhões de reais, em Salvador. E a revelação das gravações de um dos mais bem sucedidos empresários do mundo com presidente da República, senador, deputado e jurista.
Apesar de haver articulações e torcida para que a Lava-Jato seja estancada, a operação continua. Nomes famosos continuam presos, outros já receberam o benefício de progressão de pena. Muitos aguardam na fila de julgamento e vários novos nomes investigados virão à tona.