O notório Reinaldo Azevedo, ex-Veja, autor do “País dos Petralhas I e II” – obras imprescindíveis na biblioteca do Instituto Teotônio Vilela -, atual comentarista da Rede TV! e âncora de um programa vespertino na BandNews FM chamado “É da Coisa”, transformou seu espaço radiofônico, já há algum tempo, num infindável festival de bobagens, alimentado por seu ego inflado e sua arrogância conhecida. Ora ele cita o fato de ser colunista da Folha de S.Paulo, ora de ter entrevistado alguém pela Veja. Reinaldo, que nunca conseguiu fugir de sua vocação para o ostracismo, teve uma visão recente, quando Michel Temer, agora oficialmente seu ídolo, concedeu-lhe um papo ao vivo, um autêntico tricô entre comadres. Desde então, Reinaldo tornou-se um ardoroso fã da intervenção, a última pataquada do vampirão.
Ontem, o âncora carequinha, que curte rir das próprias piadas e fazer imitações que só ele entende, especialmente do ex-presidente Lula, algo que o orgulha pessoalmente, resolveu fazer um apelo para que a mídia pare de dar notícias sobre mortes e violência no Rio de Janeiro porque isso, segundo ele, prejudica a intervenção. Propôs até que as notícias policiais ficassem restritas aos cadernos policiais e de cidades, mas fora do noticiário político. O jornalismo, disse ele, faz um “desserviço” ao noticiar crimes, atrapalhando as ações de longo prazo da intervenção. Não se sabe se Reinaldo acertou os termos de rendição com o interventor federal, general Walter Braga Netto, mas foi grotesco e genial.
Em um momento de puro desprendimento autobiográfico, Reinaldo fez até uma confissão. “Eu fui muito pobre. Poderia ter virado bandido e decidi não ser”, contou – dessa vez a emoção não veio -, fazendo uma mistura entre condição social e criminalidade, que é o principal combustível para estereótipos. Essa é a lógica do preconceito com as favelas, tingir o DNA dos pobres de potenciais criminosos, até porque são pobres. E não adianta reclamar com Reinaldo, a vivo, em seu programa. Quem discorda dele, é automaticamente desqualificado no ar. “Vão procurar sua turma, vomitar em outro lugar, aqui somos pessoas lindas e não aceitamos pum na sala”, disse da última vez. Eu tentei, juro.
Reinaldo é mais preparado que seu ex-amigo e hoje algoz, Diogo Mainardi, numa briga que terminou em baixaria pesada no Twitter. Também é mais inteligente – o que não é difícil – que o ex-enfant terrible da direita, Rodrigo Constantino, autor de “Esquerda Caviar”, um coitado que se martiriza por não ter nascido em Miami. Reinaldo, no entanto, não pode trair sua clientela. É o mais engraçado dos três, ainda que o humor seja quase sempre involuntário. Mas ter humor já faz uma enorme diferença. Talvez eu continue ouvindo Reinaldo na BandNews, nem que seja para encher seu saco.