Filhote do MBL, ao qual é filiado, e filho legítimo de um servidor da ditadura militar, o prefeito tucano de Porto Alegre (que tristeza para Poa), Nelson Marchezan Júnior, teve a irresponsabilidade de pedir – diretamente ao presidente Michel Temer! – apoio do Exército e da Força Nacional para atuarem no dia do julgamento do ex-presidente Lula no Tribunal Federal Regional da 4ª Região, na capital gaúcha, previsto para 24 de janeiro. Mas quem quer ver o circo pegar fogo pode virar o palhaço da festa.
Sua atitude, se a lógica da militância petista ainda faz sentido, será levar mais gente ao evento, montado pelo PT para pressionar – ou pelo menos mostrar força política – naquele que será o julgamento mais relevante das eleições de 2018, divisor de águas, que poderá tornar Lula inelegível ou candidato sub judice. Lula vai perder – sabe até a Estátua do Laçador -, mas por enquanto é altamente relevante se o veredito será unânime ou não nesta segunda instância. Se João Pedro Gebran, Leandro Paulsen e Victor Laus se dividirem, Lula seguirá candidato ‘sub judice’ e vai ser difícil segura-lo. Se for massacrado pelo TRF4, o PT já começará a preparar o Plano B – ainda que signifique manter Lula na ribalta por mais alguns meses, entre recursos e embargos.
Mas o relevante mesmo, aqui, é falar da atitude do Marchezanzinho, projeto de ditador. O prefeito de Porto Alegre, com sua atitude, tenta criar um cenário de guerra onde, até agora, só há paz e democracia. Criminalizar um ato pacífico, incendiar, blackbolizar, é presumir o confronto e até estimula-lo. Nota divulgada pelo prefeito, reparem bem nos termos, diz que líderes políticos convocaram uma “invasão” em Porto Alegre. Essa é a complexa justificativa para defender a necessidade de reforço militar para “preservar a integridade dos cidadãos e do patrimônio coletivo”.
Por enquanto, o ex-comunista Raul Jungmann, ministro da Defesa, resiste – mas, em um governo desses, não se sabe por quanto tempo. Nas últimas horas, Jungmann tem repetido que discorda com o emprego das Forças Armadas em Porto Alegre, como reforço à segurança da cidade. “Não cabe à Prefeitura de Porto Alegre solicitar o emprego de Forças Armadas. Somente ao governo do Estado, e se houver perda de controle, o que não é o caso”, declarou o ministro, acrescentando: “Tampouco acho que haverá necessidade”. Não se sabe se é um descarte ou uma dica para o governador José Ivo Sartori do PMDB de Temer.
No pedido, Marchezanzinho diz considerar ameaças de “de ocupação de espaços públicos municipais pelos diversos movimentos sociais que manifestaram-se publicamente nesse sentido” e também “a menção à desobediência civil e luta propugnadas nas redes sociais por alguns políticos, inclusive senadores da República”. “É muito medo do povo”, respondeu a senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT. Quase todos esses diálogos se deram em redes sociais. Em julho, o diretório municipal do PT entrou com uma manifestação no Ministério Público Estadual pedindo ação de improbidade administrativa contra o prefeito o acusando de usar os recursos da prefeitura para atacar o PT.
Pedidos desta ordem, lembraram veículos de comunicação independentes, são feitos em casos específicos e normalmente partem de governos estaduais, que são os responsáveis pela segurança pública. Exemplos recentes são as atuações das Forças Armadas na crise carcerária do início de 2017 e na comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro. A Força Nacional de Segurança também atuou na Copa do Mundo, em 2014, e nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016. Mas como Marchezanzinho pediu, restou ao governo dizer que está analisando. Espera-se que analise e jogue na lata do lixo da história, mesmo lugar onde vai parar Marchezanzinho, o Dória gaúcho.