Affonso Camargo, candidato a presidente da República na primeira eleição direta para o Palácio do Planalto depois da redemocratização do Brasil. 1989.
Em tempos de campanha e para conquistar votos, muitos candidatos revelam aspectos surpreendentes e pitorescos de suas vidas. E era esse lado inusitado que eu buscava para mostrar aos leitores quando fui fotogravar os concorrentes daquela disputa presidencial, para a revista que eu trabalhava, a Veja.
No caso de Affonso Camargo, a surpresa era seu veio musical. O ex-governador do Paraná e então senador pelo PTB, às vezes mostrava em seu programa da propaganda eleitoral as habilidades com um acordeão Scala, italiano, de 80 baixos.
Tanto no rádio quanto na tevê, Affonso Camargo – que fora também ministro dos Transportes do governo Sarney – respondia uma a uma as cartas que recebia dos fãs, além de falar de suas metas de governo. Mas considerava que uma das armas mais eficazes para chegar à vitória era usar como marketing apresentar sua destreza com a sanfona. Queria demonstrar seu jeito romântico e descontraído. Tocava boleros, polcas, marchinhas e outros ritmos do cancioneiro popular. A música de sua preferência era a maviosa valsa “Saudades do Matão”.
A estratégia do doutor Affonso, porém, não obteve sucesso. O vencedor entre os 22 candidatos no primeiro turno, foi o alagoano Fernando Collor, com 21.611.011 votos, seguido por Lula, Brizola, Covas, Ulysses e Aureliano. Camargo ficou em décimo-primeiro, com 379.286.
Orlando Brito