A propósito do naufrágio do submarino argentino San Juan, que está desaparecido há cinco dias no Atlântico Sul, provavelmente a 430 quilômetros do continente, onde está localizada a Base Naval de Ushuaia de onde zarpou, com destino a Mar del Plata. A bordo do San Juan estão 44 tripulantes, sendo uma mulher, oficial da Marinha. Há vários navios e aviões em busca e notícias de que a nave emitiu vários sinais de SOS.
O submarino San Juan tem 65 metros de comprimento, foi fabricado na Alemanha e lançado ao mar em 1983. A suspeita é que o navio tenha sofrido pane no sistema de energia. Segundo informações da Armada Argentina, há comida e reserva de ar para pelo menos quinze dias. O episódio traz sofrimento e esperanças não somente para as famílias dos embarcados, mas também para milhões de pessoas mundo a fora. Todos na expectativa das buscas.
O acidente com o San Juan é um drama que se repete. Um dos assuntos mais tristes e impactantes que dominaram a mídia em 2000 foi o terrível acidente com outro submarino, o Kursk, da marinha da Rússia. A tragédia aconteceu no dia 12 de agosto daquele ano, a 130 quilômetros da Base Naval de Severomorsk, nas geladas águas do Mar de Barents. Uma falha no dispositivo de disparos mísseis durante um exercício de treinamento causou o desastre e a consequente morte de 118 militares.
A explosão foi tão grande que afetou, primeiramente, quatro dos nove ambientes do submarino causando a morte imediata de 95 marinheiros. Outras explosões ocorreram em questão de minutos, e novas avarias aconteceram. O comandante da nave, o capitão-tenente Dmitry Kolesnikov e os demais sobreviventes se agruparam na câmara 9. O submarino afundou e ficou estacionado a 108 metros de profundidade. Segundo a perícia, os 23 sobreviventes dos primeiros estouros faleceram num período de 6 e 32 horas após o acidente, por falta de ar. O impacto foi de tamanha potência que causou um tremor de terra calculado em 2.2 pela Escala Richter.
O submarino Kursk começou a ser construído em 1990 e foi lançado ao mar quatro anos depois. Tinha 154 metros de cumprimento e 18 de largura. Podia receber até 116 pessoas e mergulhar até 300 metros de profundidade. Pertencia à classe Oscar. Movido a energia nuclear, era tido com uma magnífica arma de guerra, específico para bombardeio de navios. Moderno. Considerado expoente da defesa russa, fazia parte da frota encarregada da vigilância nos mares do Norte. Talvez o mais eficiente de todas as forças armadas.
E esse acontecimento, do afundamento do submarino Kursk, o K-141, cujo fim trágico virou filme e foi parar nas telas do cinema, se deu na era de transição política, o fim da União Soviética de Mikhail Gorbachev, a época em que chegavam os presidentes Boris Yeltsin e, em seguida, Vladimir Putin. As energias estavam voltadas para o novo regime da Rússia e não para a força militar.
Quando, após dias e dias de trabalho das esquipes de resgate, foram retirados os corpos das vítimas, encontraram no bolso do comandante Kolesnikov um bilhete manuscrito, no qual ele informava em poucas linhas que escrevia no escuro do compartimento em que estava com outros companheiros marinheiros e sabia que as chances de sobrevivência eram muito poucas.
Os Estados Unidos, a Noruega e a Inglaterra até ofereceram à Rússia ajuda de suas forças especializadas em socorro de acidentes marítimos. Porém, temendo que esses países se apoderassem de segredos militares que o Kursk representava, o governo de Moscou recusou. O presidente Vladimir Putin, que havia assumido o poder meses antes do acidente, determinou a ida para o local de aviões, helicópteros, porta-aviões e tropas especialidades. Os esforços, porém, foram em vão. Todos os 118 tripulantes do submarino morreram no fundo mar.