No momento em que a questão indígena se torna uma das mais inquietantes do País, vale recordar que os sertanistas Orlando e Cláudio Villas-Boas foram dois dos brasileiros que mais lutaram pelo destino dos índios, para que estes tivessem convivência adequada quando em contato com a população branca.
Eram seguidores fiéis da teoria do marechal Rondon de que no futuro os povos das florestas viriam sofrer com o avanço do progresso e teriam sua cultura e identidade ameaçadas. Nos idos de 1943, ao lado de outros dois irmãos, Álvaro e Leonardo, se embrenharam nas matas de Mato Grosso e Goiás, dando início à pioneira Expedição Roncador-Xingu. Cuidaram também da questão indígena nos estados de Rondônia, Roraima, Pará e Amazonas.
Com Noel Nutels e Darci Ribeiro, os Villas-Boas criaram o Parque Nacional do Xingu, no curto governo Jânio Quadros. Diversas etnias, entre elas os xavantes, caiabis, kamaiurás, krain-a-kores, yawalapitis e caiapós, receberam em suas aldeias os irmãos Orlando, Claudio, Leonardo e Álvaro. Ao longo da heróica caminhada de décadas pela selva, os quatro sofreram terríveis malárias. Faleceram, aliás, em consequência delas.
Várias vezes fotografei a dupla Villas-Boas. Em viagens pelo interior do Brasil e mesmo em Brasília. A última, porém, foi essa foto aí, para o livro “Senhoras e Senhores”, em São Paulo. Orlando (à esquerda), o mais velho, foi indicado duas vezes para receber o Prêmio Nobel da Paz e ganhou cinco títulos de Doutor Honoris Causa de importantes universidades brasileiras, além de condecorações de entidades internacionais. Em meados de 2000, foi demitido da Funai, a Fundação Nacional dos Índios. Dois anos depois, morreu, aos 88 anos.
Orlando Brito