A “Turma do Pererê” foi a primeira revista de quadrinhos colorida inteiramente brasileira. Até o ano de 1959 era somente uma tira ilustrativa em O Cruzeiro, a principal publicação do Brasil durante anos. O cartunista Ziraldo, seu criador, resolveu ampliar as histórias e levá-la às bancas. Foi um sucesso. Chegou a vender mensalmente 120 mil exemplares. Contava as refregas entre benfeitores e malfeitores na longínqua “Mata do Fundão”.
Mas A Turma do Pererê, porém, foi retirada de circulação, em 1964, por ser considerada “ideologicamente ameaçadora à democracia” pelo regime militar que comandava o Brasil à época.
Anos depois, a Editora Abril a relançou como álbuns de figurinhas colantes. Imaginava que iria atender aos novos conceitos da meninada. Era uma tentativa de oferecer ao mercado uma publicação que viria dar visão brasileira frente às revistas da época, o mundo Disney, os gibis Bill Kid, Tarzã, Os Sobrinhos do Capitão, Batman, Recruta Zero, Fantasma etc. O sucesso, entretanto, não se repetiu. Em 1998, ganhou uma série de 20 episódios na tevê, dirigida por Antonio Alves Pinto, filho de Ziraldo.
Hoje, o mundo mudou. Outros heróis foram criados. Temos aí uma profusão de novas leituras e edições no cinema, na tevê e na Internet. Harry Potter, Homem Aranha, Capitão América, Avengers…
Em 1980, o Brasil vivia tempos de tempos da abertura democrática, no início do governo João Figueiredo. E Ziraldo conseguia reunir no Hotel Nacional, em Brasília, dez dos amigos de sua infância em Caratinga, agradável cidadezinha no Norte de Minas. Eram os amigos que ele transformara em personagens do mundo de Pererê.
Quando menino, eu era leitor assíduo da revista e, agora fotógrafo, estava diante das pessoas que deram a verdadeira origem às histórias que faziam a minha alegria.
No salão da festa estavam ao lado de Ziraldo, “Pererê”, o moleque saci, o índio “Tininim”, o macaco “Allan”, o coelho “Geraldinho”. “Galileu”, a onça. E ainda, o jabuti “Moacir”, os caçadores “Tonico” e “Seu Neném”, “Mãe Docelina”, o sábio professor “Nogueira” e a “Boneca-de-Pixe”, namorada do pretinho de uma perna só.
Por mais que fosse uma cena sem grandes apelos visuais, não perdi a oportunidade tão rara de fotografá-los reunidos. Aliás, deve ser a única fotografia de toda a “Turma do Pererê” reunida.
Orlando Brito