Gostaria de fazer uma visão para além do fato de o presidente Donald Trump ter determinado que tropas americanas atacassem com mísseis uma base militar na Síria, de onde teriam saído aviões que lançaram bombas químicas contra a própria população. Segundo o noticiário, em torno de quinhentas pessoas foram atingidas pelo gás sarín e 86 morreram, especialmente crianças. O efeito e os riscos de uma ação com esta magnitude colocam o mundo em situação de alerta. A iminência de uma guerra sempre ronda o planeta quando isto acontece. Centenas de motivações levam um chefe-de-Estado a uma atitude dessa importância.
Potências militares mundiais em conflito… Perigo iminente.
Vimos a impressionante fotografia do sírio Abdel Hameed Alyousef abraçado aos corpos do casal de filhos gêmeos mortos pelo gás químico das bombas jogadas durante o ataque aéreo ao bairro onde mora, o povoado de Kahn Sheikhoun. Abdel, de 29 anos, perdeu, além dos dois filhos, a esposa Dalal e mais cinco parentes. Pura dor e sofrimento. Impossível não faz relacionar a força dessa chocante imagem a razão do ataque dos mísseis.
Quando ainda não existia a fotografia, as guerras aconteciam para os olhos de somente quem estava lá, no campo de batalha. Restava aos ausentes imaginar o resultado dos bombardeios, o efeito dos ataques e da luta. A dor, a devastação e a morte eram reproduzidas por pintores que ouviam o relato de um sobrevivente e transferia para as telas o drama segundo sua capacidade de expressão.
Com a invenção da fotografia, em 1839, a face da guerra deixava a imaginação imprecisa da pintura para ser vista sob o ângulo da realidade nua e crua das câmaras. O primeiro fotógrafo a levar a barbárie dos campos de batalha para os olhos das populações foi o americano Mathew Brady, lá nos idos 1863, durante a Guerra da Secessão, nos Estados Unidos. Pela primeira vez as pessoas distantes do campo batalha podiam ver corpos de soldados mortos numa batalha, no caso a da Pensilvânia.
As duas guerras mundiais foram, de certa maneira, mostradas à farta pela fotografia. Há imagens memoráveis de ambas, em sua grande maioria carregadas de dor e emoção. Expõem, sobretudo, não somente o dia-a-dia nos campos de batalha, mas também o interesse no poder de sedução das fotos. Fotografias passaram a ter valor muito além do sofrimento humano, dos soldados no front.
Já na guerra de 1914-18, as imagens eram usadas como apelo emocional, para unir a população em torno da causa. Repare na força visual da cena que mostra a organização e o empenho das mulheres e jovens que trabalham na fábrica de bombas na Inglaterra. E no sermão do reverendo militar falando do cockpit do caça às tropas inglesas.
A Segunda Grande Guerra gerou imagens inesquecíveis. Não somente nas trincheiras, mas também longe delas. Revelou e consagrou fotógrafos que se tornaram importantes e que produziram material essencial para a história. Robert Capa, Eugene Smith, entre outros, cobriram de perto o fogo cruzado das batalhas, o lado cruento da guerra. A vertente política não ficou longe.
Adolf Hitler fez questão de fazer desfilar suas tropas na Avenida Champs Elysée com o Arco do Triunfo ao fundo, quando invadiu Paris. Aquela imagem para propaganda nazista era o retrato do sucesso da conquista da Alemanha de então. Para os franceses, uma humilhação. Humilhação que o general De Gaulle resgatou com outra foto, no mesmo lugar, a Avenue Champs Elysée com o Arco do Triunfo ao fundo, quando voltou do exílio na Grã-Bretanha, com a derrota dos nazistas.
De lá para cá o mundo mudou. Muito. Mudou bastante. Incontáveis conflitos aconteceram planeta a fora. Cada um deles com suas razões. Novas questões surgiram na humanidade e velhas outras recrudesceram. Guerras entre países, entre grupos de nações, entre povos, entre gangues internacionais, entre cartéis, entre ideologias, do narcotráfico, religiões, empresas, governantes malucos, ditadores sanguinários etc etc. E também a fotografia mudou, a comunicação mudou. Muito.
Agora vivemos a Era da Comunicação Total. A imagem virou ouro puro, é artigo de primeira. Nada acontece sem a presença da imagem. Aliás, a imagem tomou outro sentido além de ser somente imagem, fotografia. Agora existe a imagem da imagem. Virou parte essencial do também moderno marketing. O efeito emocional causado por uma fotografia é artigo de interesse número um.
Já vivemos os tempos da televisão e agora estamos em plena Era digital, na época da Internet, das redes sociais, das noticias online, imediatas, simultâneas, de tecnologias as mais modernas e inimagináveis.
Imagine você aonde chegou a criatividade humana em torno ou a serviço da guerra. Dia desses estava vendo na tevê um ataque de mísseis a uma cidade da Síria. Assustador! No nariz de uma bomba, uma câmara instalada transmitia ao vivo seu próprio trajeto. Agora você viaja com a desgraça. Seus olhos acompanham a velocidade da morte. Você vai a bordo do desastre, chega antes da explosão.
E lembrar que uma fotografia foi essencial para o fim de uma guerra, a do Vietnam. Publicada nos jornais de todo o mundo a imagem comoveu não somente as pessoas que a viram, mas também as autoridades internacionais, os diplomatas das Nações Unidas e entidades interessadas na paz mundial. A foto mostra a menina Kim Phuc, à época com oito ou nove anos, correndo despida ao lado de outras crianças, a fugir do ataque de bombas de napalm jogadas por soldados americanos. A foto de Nick Ut, da agência AP, mereceu o Prêmio Pulitzer de Jornalismo e o World Press de 1972. É, talvez, uma das imagens mais simbólicas de uma guerra.
Aliás, fotos de crianças vítimas do sofrimento condoem a qualquer um de nós. Ano passado, a imagem do menino sírio de três anos, Aylan Kurdi, é de estraçalhar corações. O garoto morreu nas areias da praia de Bodrum, na Turquia, quando sua família tentava chegar à Grécia a bordo de uma pequena embarcação que se chocou com outra a pouca distância da terra firme. É o espelho do drama das migrações que ocorrem agora, especialmente na Europa, com enormes caravanas de habitantes de países em guerra fugindo da pobreza e em busca de sobrevivência.
A foto feita pela jornalista Nilufer Demir comoveu o mundo. Tanto quanto a de outro menino resgatado dos escombros de um ataque à cidade de Aleppo, também na Síria. E olha que estou me atendo às imagens feitas fora do Brasil, relativas aos conflitos internacionais, de causas diferentes da violência das cidades e da pobreza. Sabemos que aqui, a violência não poupa não somente crianças, mas também todos os tipo de cidadãos.