O ex-presidente Bolsonaro voltou ao Brasil há cerca de duas semanas prometendo aos aliados assumir a liderança da oposição ao governo Lula. Não teve tempo. Enrolado nos próprios problemas, o primeiro compromisso foi com a Polícia Federal para explicar sobre as joias da Arábia Saudita e sobre as armas que recebeu dos Emirados Árabes Unidos, um fuzil e uma pistola.
A defesa do ex-presidente admite que as respostas não convenceram os investigadores de que é inocente no caso. O próprio Bolsonaro avalia, segundo o colunista Guilherme Amado, do Metrópoles, que só a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro conseguiu se safar das investigações, por enquanto.
Mas este não é o único problema de Bolsonaro e seu clã com a justiça. Em fevereiro, a ministra Carmem Lúcia mandou para a primeira instância 10 pedidos de investigações contra o ex-presidente, dos quais, pelo menos cinco, se referem a declarações e ataques contra ministros da Corte durante o 7 de setembro de 2021.
Embora não seja diretamente investigado no inquérito que apura os atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro, o capitão pode se complicar caso o seu ex-ministro da Justiça Anderson Torres resolva aderir ao instituto da delação premiada, muito em moda na época da Lava Jato.
É verdade que por enquanto a defesa do ex-ministro, preso desde janeiro, não tem manifestado qualquer intenção nesse sentido, mas tudo pode mudar. Torres está cada dia mais enrolado, não apenas pela omissão nos atos do dia 8, mas em outras investigações como a minuta do golpe encontrada na casa dele e a suspeita de que tenha agido para pressionar a PRF a barrar eleitores no Nordeste, região onde Lula tinha mais votos.
Com todas essas confusões ao redor, falta tempo para Bolsonaro cumprir a promessa de se tornar o grande líder oposicionista. Mas ele parece não estar nem aí, esticou até o feriado da Semana Santa em passeios na paradisíaca Angra dos Reis. Talvez falte um pouco de disposição também para assumir tamanha responsabilidade.
Enquanto ele flana e seus advogados se viram com suas encrencas, inclusive a provável decisão do TSE de torná-lo inelegível, no Congresso velhos aliados se unem para garantir um naco de poder no atual governo. E, assim, vão se afastando do ex-presidente e do seu partido, o PL, que acabou ficando de fora dos blocões parlamentares formados recentemente. Mesmo o Republicanos, partido de Carlos Bolsonaro, o filho 02, da senadora Damares Alves e do governador Tarcísio de Freitas, vem se aproximando a galope do governo Lula.
Até o deputado-pastor Marco Feliciano, do PL, andou elogiando o ministro da Justiça de Lula, Flávio Dino. Depois de chamar a oposição ao governo de “vergonhosa”, disparou: “Aqui não é lugar para lacrar. Não dá para querer lacrar na frente de um ministro preparado, como é o caso do Dino.” Será que ele, também, já está abandonado o barco?
Ô glória!