Na reta final da campanha o presidente Bolsonaro se viu envolvido em uma sequência de tropeços provocados por ele mesmo e por aliados. Começou com a fanfic criada pela ex-ministra Damares Alves, durante um culto em Goiás. Depois, o próprio Bolsonaro tratou de se complicar com o “pintou um clima” ao se referir a adolescentes venezuelanas.
A confusão das meninas ainda estava no auge quando o falastrão Paulo Guedes disse que o governo planeja desvincular o aumento do salário mínimo e das aposentadorias do índice de inflação. E para coroar as trapalhadas, Roberto Jefferson, amigo de longa data de Bolsonaro, disparou 50 tiros e três granadas contra policiais federais que cumpriam ordem de prisão do ministro Alexandre de Moraes contra o mensaleiro por ter violado as regras da condicional.
Como o desespero é mau conselheiro, a equipe do presidente resolveu criar um factoide capenga para tirar os assuntos Bob Jefferson e salário mínimo da pauta. Em tom dramático, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, ao lado do xará Wajngarten, convocou uma coletiva para denunciar que a campanha de Jair Bolsonaro estaria com 154 mil inserções a menos em relação ao ex-presidente Lula em rádios do Norte e Nordeste que não estavam fazendo as inserções da propaganda eleitoral.
A ação mal planejada acabou por virar mais um tiro no pé da campanha bolsonarista. Até agora não foi apresentada nenhuma prova concreta sobre a não inserção do material. Algumas rádios, procuradas pela imprensa, já desmontaram a farsa. Umas disseram que as inserções foram ao ar e outras afirmaram que não receberam o material de campanha para as inserções, que deve ser entregue pelo próprio partido ou coligação do candidato.
Para colocar ainda mais lenha na fogueira, o servidor da Secretaria Judiciária do TSE, Alexandre Machado, exonerado de cargo em comissão nesta quarta-feira (26), foi à Polícia Federal prestar depoimento. Afirmou que está sofrendo perseguição dentro do Tribunal por ter alertado várias vezes que estavam ocorrendo falhas na veiculação das propagandas eleitorais. O relato fortalece a narrativa do presidente Bolsonaro.
O TSE foi duro ao rebater as acusações do seu ex-colaborador. Informou que Alexandre foi exonerado do cargo em comissão por “reiteradas práticas de assédio moral, inclusive por motivação política, que serão devidamente apuradas”. Disse, ainda, que as alegações apresentadas à Polícia Federal “são falsas e criminosas e, igualmente, serão responsabilizadas”. Se, como tudo indica, Alexandre mentiu à Polícia Federal, foi outro tiro que saiu pela culatra.
O fato é que ao final do dia o presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, indeferiu petição apresentada pela coligação de Bolsonaro para que fosse suspensa a veiculação de peças de propaganda eleitoral da coligação de Lula no rádio e extinguiu o processo sem julgamento do mérito.
E não ficou só nisso. Moraes determinou que a Procuradoria-Geral Eleitoral seja notificada para investigar possível crime eleitoral com a finalidade de tumultuar o segundo turno em sua última semana. Além de instaurar procedimento administrativo no âmbito do Tribunal para apuração de responsabilidade em “possível desvio de finalidade na utilização de recursos do Fundo Partidário por parte dos autores da petição”.
Logicamente que Bolsonaro se queixou da decisão de Moraes. Anunciou que vai recorrer e, mais uma vez, falou em ir às últimas consequências dentro das quatro linhas da Constituição. Reclamou que sua campanha foi prejudicada e que houve desequilíbrio do processo eleitoral. Neste caso ele tem razão, realmente há um desequilíbrio no processo eleitoral. Nunca nenhum presidente se utilizou tanto o governo em uma campanha.
Bolsonaro não faz qualquer cerimonia em usar a máquina pública em seu favor. A começar pelo fato de a denúncia ter sido feita por um ministro de Estado, Fábio Faria, das Comunicações, e não por alguém do seu partido ou da coordenação de campanha. Sem falar na liberação de recursos, consignado para os beneficiários do Auxílio Brasil e muitas outras coisas. A lista é grande.
O presidente e sua equipe sabem que a denúncia não se sustenta em pé. Fala para atiçar a militância, que já marcou para o próximo sábado, às 9h, uma manifestação na Esplanada dos Ministérios, “Por eleições limpas”. Se for grande, pode criar um clima bom pra sua campanha, se for pequena, será outro tiro no pé. Também conseguiu com que dois aliados no Congresso defendessem a ideia de adiamento da votação, até agora sem eco.
Não é de hoje que Bolsonaro cria narrativas para gerar um clima de desconfiança e instabilidade em relação ao sistema eleitoral brasileiro. Primeiro atacou as urnas eletrônicas. Em fevereiro de 2020, disse que houve fraude na eleição de 2018 e que apresentaria provas. Jamais apareceu nenhuma. Só narrativas mal acabadas.
Tentou impor o voto impresso, mas foi derrotado no Congresso. Partiu para cima do Judiciário – em especial do Supremo e do TSE – com todo tipo de acusação. Os ataques quando não partiam dele, eram feitos por aliados, como Roberto Jefferson. No primeiro turno criticou os institutos de pesquisa e, com o erro nos resultados, aproveitou para tentar criminaliza-los.
Agora, com essa denúncia, tenta adiar a votação e criar mais um clima de instabilidade política no país. Bolsonaro quer o caos. Não aceita perder.
Seja qual for o resultado no domingo, teremos tempos difíceis.