Os institutos de pesquisas eleitorais saíram – e não é a primeira vez – como vilões do primeiro turno das eleições. Erraram, e não apenas no pleito presidencial; houve disparidades maiores em vários Estados. As explicações estão sendo dadas e podem ter base na realidade. Basicamente, elas não conseguiram captar a movimentação dos votos entre a véspera e o dia das eleições. E que o voto útil – ah, essa grande invenção, que uma hora vale, em outra não, dependendo do lado – não teve como beneficiário Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, mas Jair Bolsonaro, do PL.
Mas, se eles já sabem dessa possiblidade, por que fazer a pesquisa nestes dias? Por que não encerrar antes? E por que as pesquisas não vêm com uma espécie de bula, dizendo que elas têm data de validade, podem estar erradas (para além da margem), que são apenas a fotografia do momento (o clichê mais usado), que detalhes podem escapar ao levantamento feito tão perto de uma eleição que pode apresentar reviravoltas?
Há exatamente uma semana, publiquei neste espaço uma reflexão sobre as pesquisas, sobretudo pelo uso exagerado que se faz delas, seja pelo marketing das campanhas, seja pelos políticos, e principalmente por quem deveria analisá-las com mais rigor e distanciamento.
Mais ainda: dando-lhes a devida importância, cuidando para que elas não reduzissem o debate a números e não aos temas que são de real interesse da população e não foram discutidos com um mínimo de profundidade. Dizia que limitar-se a elas era empobrecer o debate. E são tantas pesquisas que criaram até agregadores destes levantamentos.
Pois chegamos ao final do primeiro turno e elas ao centro das discussões. Não me cabe aqui discutir a questão tecnicamente; até porque as explicações técnicas que ouvi das representantes dos dois institutos tidos como de maior credibilidade, não foram convincentes. Um outro analista disse que o movimento dos eleitores nas últimas horas não foi captado pelas pesquisas “porque não tem como”. Ora, se é assim, pra que fazê-las?
Como diz o professor Antônio Lavareda, ele sim um especialista no assunto, “veículos de comunicação, com a ‘complacência’ dos institutos, não resistem a fazer das pesquisas a espinha dorsal da cobertura das eleições. E na véspera do pleito, no show final, centram nos ‘votos válidos’ o foco do noticiário, levando leitores e espectadores a suporem que estão diante de um prognóstico, de um resultado antecipado do que será apurado no dia seguinte”. E isto, sim, pode induzir escolhas.
Além dos próprios institutos, outros atores entraram em campo e suas razões são sempre perigosas: políticos como Arthur Lira e Ricardo Barros, próceres do Centrão, já estão em campo para impor regras à sua atuação.
O professor Marcos Cavalcanti, que é matemático, no sábado alertava em grupos no Facebook: “acho muito estranho os institutos de pesquisa darem a eleição resolvida no primeiro turno” com uma taxa de rejeição de Lula. Ontem, fez análise mais detalhada sobre as curvas de rejeição em alguns estratos da população, que foram ignoradas pelos analistas.
Talvez seja útil uma grande DR (discussão de relação) A dos institutos, a meu ver, foi insuficiente. A de muitos colunistas da imprensa, analistas, debatedores, editores dos veículos de comunicação, eu ainda não vi. Não raro, estes profissionais cobram dos políticos que façam autocrítica. Está passando da hora que eles também o façam. No mínimo, pelo destaque dado às pesquisas, quase que exclusivamente as presidenciais. O desprezo pelas eleições legislativas foi evidente. E olha o Congresso que teremos pela frente.
Este é um ótimo momento, já que teremos o segundo turno da eleição presidencial e para vários governos estaduais daqui a poucos dias. Muitas pesquisas já devem estar sendo contratadas pelas campanhas, por jornais, TVs e sites, além de bancos e outras instituições. Vamos esperar para ver esse filme de novo? Ou para vermos uma legislação restritiva, inclusive com elementos de censura, ser aprovada pelo Congresso?
E, no embalo, poderiam todos também aproveitar para rediscutir o apelo ao voto útil, que tem como base exatamente as pesquisas eleitorais. O tiro, pra usar uma alegoria ao gosto de alguns, pode sair pela culatra.