A semana que passou alguns acontecimentos marcaram uma mudança importante na campanha eleitoral, que vinha se mantendo morna, com as pesquisas apontando para uma cristalização da disputa em torno das candidaturas do ex-presidente Lula e do presidente Bolsonaro. Assim, ambos seguiam em suas zonas de conforto determinando a agenda dos temas em debate e ignorando as provocações de Ciro Gomes e a existência de Simone Tebet.
Também Lula e Bolsonaro escolhiam com quem, onde e quando falar. Recusaram os convites do Roda Viva e da Globo News, mas enfrentaram a bancada do JN e as incômodas perguntas dos apresentadores William Bonner e Renata Vasconcelos. Ainda não dá para saber se a sabatina vai alterar alguma coisa nas pesquisas, mas a repercussão acabou sendo positiva para todos.
É verdade que para além do cenário, a principal mudança das entrevistas este ano foi no tom dos apresentadores, bem menos incisivos que nas eleições anteriores. Embora não tenham deixado de fazer as perguntas necessárias, os candidatos se sentiram mais confiantes. Era nítida a diferença.
A última entrevistada foi Simone Tebet, do MDB. Ainda pouco conhecida do público e patinando nas pesquisas, ela aproveitou bem o espaço nobre do JN para se apresentar. Mostrou não ser uma neófita na política, que tem experiência administrativa e projetos para o país.
Ao admitir que sofreu e ainda sofre boicote dentro do próprio partido, Tebet criticou a ala comandada pelo colega Renan Calheiros, que tenta, a todo custo, “puxar seu tapete”. Buscou se diferenciar dessa turma, que ela lembrou ter se envolvido nos escândalos do Mensalão e do Petrolão. “O MDB que eu represento é do Pedro Simon, do Tancredo Neve e do Mário Covas. De homens desbravadores, corajosos e, acima de tudo, éticos”.
Assim como os demais candidatos, Tebet saiu-se bem na entrevista, mas o maior ganho que teve com a sabatina do JN, foi a oportunidade de se mostrar aos eleitores em horário nobre no telejornal mais visto do Brasil. é melhor que a própria propaganda eleitoral no rádio e na TV que começou nesta sexta-feira e vai até 29 de setembro. Outro fato que mexeu com a campanha.
É bem verdade que há muito o chamado guia eleitoral não tem o mesmo peso de antes. Afinal, hoje em dia existem várias opções à TV aberta que permitem ao eleitor não ser obrigado a assistir aos programas. De qualquer forma, qualquer erro de estratégia pode ser muito prejudicial ao candidato. Fora isso, as redes sociais tornaram-se uma opção mais efetiva na campanha, até pela interatividade do público. A eleição de 2018 foi uma prova disso. Bolsonaro tinha apenas 7 segundos na TV, toda campanha foi pelas mídias sociais.
Por último, o terceiro evento que pode alterar os rumos da campanha, para o bem ou para o mal, é o debate entre os candidatos. O primeiro será neste domingo, promovido pela V Band, em parceria com TV Cultura, portal UOL e Folha de São Paulo. O debate da Band já virou tradição do calendário eleitoral, desde a primeira disputa pós-ditadura em 1989.
Depois de muito vai e vem, Lula e Bolsonaro confirmaram nesse sábado (27) que irão ao debate na Band. Apesar de Bolsonaro ter um histórico de desistir de compromissos de última hora, como na descortesia de cancelar um convite ao presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, para um almoço em Brasília, desta vez é improvável que ele desista. Mesmo sabendo que será o alvo principal dos adversários, se não for, será carimbado de fujão.
Com todos os riscos é também uma chance para enfrentar Lula, conseguir desgastá-lo, e reduzir a diferença aferida pelas pesquisas eleitorais. Ele até já disse que tem as perguntas que fará ao adversário. Aposta ainda nos ataques de Ciro Gomes a Lula. Entrevistas como a do JN e debates entre os candidatos são as melhores oportunidades para que o eleitor analise as propostas e decida o voto. A propaganda é diferente. Os candidatos aparecem roteirizados, maquiados (nos dois sentidos) e com discurso pronto e acabado, sem pressão. Tudo controlado pelo marqueteiro da campanha.
O debate tem regras, mas não tem script. Não dá para saber o que o concorrente vai perguntar e qual a reação de cada. É aí que a verdade aparece.