O colunista Guilherme Amado, do portal Metrópoles, publicou, nesta quarta-feira, reportagem revelando que um grupo de empresários bolsonaristas defende abertamente um golpe de Estado. O jornalista vinha monitorando há meses as conversas desses homens de negócios por meio de um grupo de WhatsApp, criado no ano passado, chamado “Empresários&Política”. Nele, vários se manifestam favoravelmente a uma ruptura democrática, caso o ex-presidente Lula seja eleito este ano. Além disso, eles endossam o discurso do presidente Bolsonaro contra as urnas eletrônica e contra ministros do Supremo.
Embora o radicalismo dos apoiadores do presidente não chegue a surpreender, até pelo tom dos discursos que o próprio Bolsonaro vem fazendo há muito tempo, é espantoso ver que um grupo de empresários de peso possa defender tamanho absurdo. E mais: que os delírios golpistas de Bolsonaro não são meros devaneios e podem estar sendo alimentados, e quiçá financiados, por essas pessoas.
Participam desse grupo Luciano Hang, o véio da Havan; Afrânio Barreira, dono da cadeia de restaurantes Coco Bambu; José Isaac Peres, da rede de shoppings Multiplan; José Koury, do Barra World Shopping, do Rio de Janeiro; Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, da Mormaii, entre outros. São empresários grandes, com forte influência e capacidade financeira para bancar algumas extravagâncias que possam beneficiar Bolsonaro.
Confrontados pelo repórter, os empresários afinaram. Alguns negaram o que disseram, outros tentaram se explicar afirmando que apenas repassavam outras conversas. O fato é que, assim como o ídolo deles, Bolsonaro, se acovardam diante da verdade. Agem nas sombras. E recuam diante da pressão. Talvez seja por medo de Alexandre de Moraes, que já mandou para o xadrez uma penca de bolsonaristas valentões.
De qualquer forma, essas conversas mostram que não são infundadas as preocupações das autoridades e de vários setores da sociedade com o futuro da nossa democracia. A carta divulgada semana passada em defesa da democracia não é apenas retórica ou movimento de campanha em favor dos candidatos da oposição, como Bolsonaro quis fazer parecer. É importante, reforça o apoio ao funcionamento correto das instituições democráticas. A sociedade deve estar atenta a todo e qualquer movimento que possa pôr em risco o que os brasileiros conquistaram com muita luta e sangue.
Há muito o presidente vem tentando demonstrar que conta com apoio popular para conseguir intimidar os demais poderes e convencer as Forças Armadas a apoiá-lo numa aventura golpista. Quem não se lembra das manifestações domingueiras onde muitos empunhavam faixas e cartazes pedindo o fechamento do Congresso e do Supremo, no começo de 2020?
Em todas elas o capitão estimulou seus apoiadores a se manterem firmes no propósito de tomar o poder. A pé, a cavalo, de jipe ou de helicóptero, não foram poucas as vezes que Bolsonaro e alguns dos seus ministros se fizeram presentes nesses movimentos. As manifestações só acabaram depois que o Supremo apertou o cerco e algumas lideranças bolsonaristas foram parar atrás das grades.
Mas Bolsonaro nunca abandonou o sonho de se perpetuar no poder sem precisar passar pelo julgamento das urnas mais uma vez. No ano passado, na comemoração do dia da Independência, convocou a população para ir às ruas, em mais uma tentativa de demonstrar que tinha apoio popular. Se deu mal. A participação dos seus apoiadores foi menor que o esperado. Assim, não lhe restou outra alternativa a não ser recuar no seu propósito e aceitar ajuda do ex-presidente Michel Temer que articulou um armistício com o ministro Alexandre de Moraes.
Este ano Bolsonaro já fez a convocação para o dia 7 de setembro. Inicialmente queria o desfile militar na praia de Copacabana. A ideia acabou sendo enterrada logo no início. Ontem, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, anunciou que não haverá desfile nem na Avenida Presidente Vargas, no Centro dlo Rio, onde costuma ocorrer a comemoração da independência, nem na Avenida Atlântica, em Copacabana. Apenas Marinha e Aeronáutica farão apresentações no mar e no espaço aéreo. Por terra, apenas os banhistas.
Talvez seja melhor Bolsonaro não insistir muito nessa história de convocar a população para o 7 de setembro. O tiro pode sair pela culatra e ele pode passar pela mesma decepção que o seu correligionário Fernando Collor enfrentou em agosto de 1992. Para quem não se lembra, pouco antes da Câmara decidir pela abertura do processo de impeachment, o ex-presidente quis demonstrar que ainda contava com apoio popular e fez um apelo para que as pessoas saíssem às ruas de verde amarelo. Dia seguinte, foi surpreendido com a população vestindo preto em todo o país.
Collor já disse ter se arrependido dessa convocação e reconhece que esse erro selou de vez seu futuro político na presidência da República.
Bolsonaro segue nessa mesma berlinda.