Perdi na sexta, [11/03/22] o amigo Orlando Brito, genial fotógrafo, jornalista, ser humano da melhor qualidade e dotado de um jeito único de olhar o mundo, o que contribuiu para que muitas das suas fotos se tornassem verdadeiras obras de arte.
Tive o privilégio de ver a dimensão do trabalho do Brito, quando, em 1992, conseguiu colocar a cabeça de Ulysses Guimarães dentro do círculo do sol em uma foto feita no salão da Câmara dos Deputados, local chamado de chapelaria, separado por uma porta de vidro, que dá acesso a também uma área coberta de trânsito de veículos.
Eu tinha ido à Comissão Mista de Orçamento fazer uma pauta da editoria de economia da Folha de S. Paulo, onde passei horas acompanhando os debates. Ao esperar o carro da Folha me apanhar na chapelaria, por volta das 18 horas, observei vindo em direção ao deputado Ulysses Guimarães, que parou na espera do seu motorista chegar. Tinha o hábito não deixar de abordar nenhuma fonte desta magnitude, em especial por obter informações exclusivas.
Enquanto conversava com dr. Ulysses, observei um braço se movimentando do ar apontando que deveria manter a conversa na mesma posição que eu e Ulysses Guimarães estávamos. Brito se abaixava e se aproximava ao tentar enquadrar na sua lente a cabeça de dr. Ulysses dentro do círculo do sol.
Por um momento único, entre o vão de menos de 60 metros entre o muro da garagem e o teto da laje superior do Congresso, o sol se projetava dentro daquele salão imenso.
Alguns segundos a mais, o sol não estaria mais naquela posição e nem mesmo nos dois.
Brito guardou a foto por cerca de três meses. Em 12 de outubro de 1992, quando caiu no mar de Angra dos Reis o helicóptero que conduzia Ulysses Guimarães, D. Mora e Severo Gomes, Orlando Brito publicou na capa da Veja o perfil de Ulysses dentro do sol. Sempre que fazia uma palestra falando do jeito que trabalhava, Brito lembrava desta foto e da minha conversa com dr. Ulysses.
Mais tarde iria trabalhar com Brito no Fato Online, onde levamos um calote de salários não pagos por empresários espertalhões. Em seguida fundamos Os Divergentes junto com Andrei Meirelles, Tales Faria e Helena Chagas, onde tive o privilégio de conviver com o profissional genial, além do ser humano muito bem estruturado, elegante no trato e solidário. Adeus, amigo Orlando Brito.