Improvável existir palácio mais simples que o Catetinho. E a simplicidade tem seu maior exemplo nos aposentos de Juscelino Kubitschek. Enquanto não estava concluído o Alvorada, era lá que o ex-presidente dormia quando viajava para ver de perto as obras da nova capital do Brasil, idealizada por ele.
Localizado no andar superior da modesta obra de madeira, o quartinho abriga a cama presidencial. Sobre o colchão de molas, um travesseiro. Na cabeceira, um abajour com o estilo da década de 1950 e o chapéu de feltro. Um radinho de pilhas ao lado da moringa de barro e do caneco de alumínio. Dois livros de poesia, um arranjo com flores secas do Planalto Central e um despertador.
Nos cômodos vizinhos, igualmente singelos, ficavam Israel Pinheiro, Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e Bernardo Sayão, aliados de JK na empreitada da construção de Brasília.
Sujeito magistral aquele Juscelino. O senhor Antônio foi estar com seu amigo Bernardo Sayão no Palácio Catetinho. Queria que seu filho de sete anos conhecesse o presidente.
JK havia chegado a Brasília pela manhã, vindo do Rio no Viscount presidencial. No dia seguinte iria participar da primeira missa da nova capital brasileira, celebrada pelo cardeal Dom Carlos Carmelo Motta. Parecia dia de festa, mas na época da construção de Brasília não havia tempo para festas. Barulho de tratores, vaivém de caminhões, batida de martelo, poeira. Ao pé da escada de madeira em torno de cem pessoas em fila aguardavam o momento de abraçar o presidente. Eram engenheiros, operários, amigos, admiradores, brasileiros vindos de todos os cantos do país, pioneiros.
Kubitschek, paletó de gabardine bege, botinas de cano longo, elegante como sempre, sorriso agradável, recebia em seu escritório de janelões abertos o aperto de mão de cada um. Antes de chegar à salinha presidencial, doutor Sayão mostrou ao amigo Antônio e ao menino onde Juscelino dormia. Simples, lugar comum. Aquela imagem nunca saiu da lembrança do menino. Era a primeira vez que via de perto um presidente do Brasil. Exatos cinqüenta anos depois, em 2007, pai e filho voltaram juntos ao Catetinho.
O senhor Antônio é meu pai, hoje um jovem de 106 anos alegrando aqueles que, como ele, estão no céu. E aquele menino, eu.
Cheguei uma semana antes daquele dia 2 de maio de 1957, vindo de Minas acompanhando-o em sua luta em busca do futuro. Fiz questão de transformar em fotografia aquela imagem que nunca me saiu da memória.