A modesta Rachel de Queiroz, primeira imortal da Academia Brasileira de Letras

A escritora cearense Rachel de Queiroz. Orlando Brito

A escritora e cronista cearense Rachel de Queiroz foi a primeira mulher eleita para a Academia Brasileira de Letras. Era prima do romancista José de Alencar, autora de livros memoráveis, a exemplo de O Quinze, Memorial de Maria Moura e As Três Marias. Durante anos escreveu para revistas e jornais. Era famosa, sóbria, tranquila.

Pela segunda vez naquele ano de 1992 eu estava com Dona Rachel, agora em seu apartamento da Rua Rita Ludolf, no Leblon. Rio. A primeira foi na fazenda Não me deixes, perto da cidade de Quixadá, no Ceará. Lugar modesto, sem nenhum exagero, mas muito aprazível. Era uma reportagem para a revista Veja, onde eu trabalhava naquela época.

“Não me deixes”, a casa de dona Rachel no Ceará

Contou-me que sempre se lembrava com tristeza da manhã de 12 de julho de 1967, quando o marechal Humberto de Alencar Castello Branco – primeiro presidente do regime militar que governou o Brasil de 1964 a 1985 – embarcou num pequeno avião na pista de seu sítio com destino a Fortaleza. Por instantes, Dona Rachel parou a narrativa. Depois de alguns segundos de silêncio, falou da tristeza de perder pessoas queridas. O bimotor que transportava seu amigo ex-presidente do Brasil colidiu com um caça da Força Aérea tirando-lhe a vida.

Agora no Rio, fui entrevistá-la para o livro Senhoras e Senhores, que eu fazia com oitentões e noventões famosos, expoentes da cultura do Brasil. Já tinha estado com os poetas Mário Quintana e João Cabral de Mello Neto, o compositor Zé Kéti, os atores Grande Otelo, Henriqueta Brieba e Mário Lago, o cardeal Dom Hélder Câmara, a comediante Dercy Gonçalves, o palhaço Carequinha, o arquiteto Oscar Niemeyer. E chegava a vez de Rachel.

A escritora foi, como sempre, extremamente agradável. E novamente pude perceber o quanto a modéstia e o desapego à vaidade eram características marcantes de sua personalidade. Após os clics, na hora da entrevista, perguntei-lhe sobre o que pensava sobre a fama. E sua resposta, parafraseando uma personagem que merecia sua admiração, foi:

– Greta Garbo já dizia que muitas pessoas passam uma metade da vida à procura da fama. E a outra metade, usando óculos escuros para esconder-se dela.

Orlando Brito

 

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