Em maio do ano passado o ex-juiz Sérgio Moro pediu demissão do Ministério da Justiça e saiu do governo acusando Bolsonaro de tentar interferir na Polícia Federal para proteger seus familiares e amigos, enrolados em rachadinhas e milícias.
Até agora o inquérito aberto para investigar as denuncias feitas por Moro não deu em nada. E não dará. Primeiro porque grande parte da elite política do País odeia o ex-juiz por ele ter sido o responsável por mandar para a cadeia muitos poderosos.
Depois, porque Augusto Aras, no comando do Ministério Público Federal, está mais preocupado em proteger Bolsonaro e sua família do que cumprir com o seu papel constitucional. Assim, garante, no mínimo, a recondução ao cargo de PGR.
No final do ano passado, seis meses depois da saída de Moro do Ministério da Justiça, mais uma vez Bolsonaro usou o Estado para beneficiar o filho 01, senador Flávio Bolsonaro, enrolado no caso das “rachadinhas”. A imprensa descobriu e noticiou que a Abin foi usada para ajudar a defesa do senador.
A Abin, assim como a Polícia Federal, é organismo de Estado e não de governo, e como tal não pode atuar em questões de interesse particular deste ou daquele governante . Isso é crime de responsabilidade e deve ser punido com rigor. O Congresso deixou passar como se a fiscalização dos atos do Poder Executivo não fosse uma das atribuições do Legislativo. E o Ministério Público mais uma vez se fingiu de morto.
Outro crime cometido por Bolsonaro, com provas criadas pelo próprio, é o descaso com a pandemia, que está sendo apurada pela CPI da covid no Senado. As mais de 425 mil mortes são a prova cabal de que a condução do governo federal foi errada.
A falta de vacinas, a falta de oxigênio em Manaus, o incentivo ao uso de remédios que não passam de placebos contra a covid, além, claro, de promover aglomerações sem máscara Brasil afora, comprovam os crimes cometidos pelo mandatário do País.
O medo do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, em depor na CPI comprova que o governo tinha plena consciência de que estava agindo errado e mesmo assim insistia em manter o erro, apesar do número de mortes aumentar de forma exponencial.
O depoimento do ex-ministro Mandetta à CPI na semana passada, confirmado ontem pelo presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, revelou que o governo queria mudar a bula da cloroquina por decreto. Um crime gravíssimo contra a saúde pública que se soma aos já elencados anteriormente.Se Barra Torres fosse tão subserviente quanto o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, esse absurdo havia se concretizado e provavelmente a tragédia vivenciada pelos brasileiros seria ainda maior.
Bolsonaro também estimulou e até participou dos atos antidemocráticos muitas vezes. E não foram poucas as ameaças de golpe feitas pelo presidente, que são, no mínimo, uma agressão à Constituição Federal. Agora, para completar o rosário de crimes de responsabilidade cometidos pelo presidente da República, aparece um esquema mais que batido de uso do orçamento público para compra de apoio no Congresso.
Assim, o Brasil segue sangrando enquanto a classe política se preocupa apenas com o próprio umbigo e com as próximas eleições. Os governistas querem manter um presidente inepto e fraco para sugar o máximo possível das verbas e cargos públicos.
E a oposição, por sua vez, deseja que Bolsonaro siga sangrando até a eleição para garantir a vitória do seu candidato, mesmo que até lá o país se despedace.
Não faltam motivos para o impeachment, o que falta é vergonha na cara dos congressistas.