A cidade vem enfrentando dois tipos de pandemia: a do Covid-19 e, paralelamente, a da falta de senso e cidadania. Os tais ‘burros’ e ‘otários’, como disse Dudu Paes e amor, não estão nem aí para a peste que assola o planeta, para qualquer regra, decreto ou cordura. Achar que todos iam obedecer a ordem de ficar em casa, de não se aglomerar no Carnaval nos locais já tradicionalmente de muvuca e conhecidíssimos de todos como a Dias Ferreira, a Praça Cazuza, a Mureta da Urca, a rua Dias da Cruz, a Praça São Salvador, a Praia de Ipanema, a Olegário Maciel, o Arpoador, a Lapa, os passeios de barcos… é no mínimo duvidar da capacidade de raciocínio daqueles que minimamente têm um sopro, ínfimo que seja, de bom senso e lucidez.
Nem no país da utopia, na cidade da quimera, nas ruas da ficção ou nas calçadas dos sonhos impossíveis, pode-se achar que uma simples ‘ordem’ de ‘não façam carnaval na rua’, ‘fiquem em casa’, ‘não aglomerem’, ‘usem máscara’ ou ‘está suspenso o Carnaval’, vai resolver toda a questão e que, obedientes e leais ao bem viver, ao bem comum e ao cumprimento das medidas sanitárias e de distanciamento, vão funcionar sem fiscalização enérgica. Nem a dona Carochinha ou a Poliana acreditam nisso, nem mesmo aqueles crentes em Papai Noel e Coelhinho da Páscoa embarcam nessa ‘viagem’.
Parece que a ordem do dia é transgredir e contar histórias para boi dormir que, evidentemente não o faz, tal é o disparate e a barulheira proporcionada pela música alta. Nem um acalanto o faz crer, muito menos o Boi de Mamão com a Bernunça nos seus calcanhares. Manter bares, boates e casas noturnas abertas é no mínimo subestimar a inteligência dos cautos. Achar que tudo funcionará em equilíbrio não convence nem o bêbado equilibrista acompanhado pela bailarina em cima do muro ou na corda bamba sem a devida sombrinha.
O Carnaval, tradicionalmente é dos mascarados , um “quem é você” generalizado, a procura da Cinderela da máscara negra para matar a saudade, mas como a ordem é quebrantar, tiram as máscaras porque seu uso se tornou obrigatório. Caem as máscaras da consciência. é um salve-se quem puder para tudo se acabar na quarta-feira. O pior é que não. Tudo começa nela, cinzas que mostrarão resultados em 15 dias como foi visto depois do Natal e do Réveillon.
Diante de tudo isso brada o burgomestre: pode abrir, mas não pode ficar na pista. Então foram todos para a galeria. Sambar na pista não pode, mas quem fiscaliza? Bradam os secretários: “estamos fazendo a nossa parte”. Não podemos entrar em áreas de risco para fiscalizar, há perigo iminente de confronto. Demonstração clara que o poder público está perdendo a batalha para o poder paralelo que há muito se instalou nas bandas de cá.
Mas o Leblon é uma área de risco? Lá pode aglomerar? Tem um decreto proibindo o vírus de alastrar naquele bairro da Zona Sul da cidade? O vírus é obediente? Reclamar dos outros é fácil, criar ações eficazes que surtam efeitos, talvez não. É a velha história do roto reclamando dos esfarrapados.
Penso nesses heróis da fiscalização, da Guarda Municipal e da Polícia Militar que, em número infinitamente menor e no cumprimento do dever, da Lei e da ordem, são hostilizados, xingados, agredidos por aqueles encimados no seu ‘direito’ egocêntrico, egoísta, ególatra, empáfia e falta de amor ao próximo se acham no direito de ali estar para comemorar um Carnaval inexistente.
A vacinação, a melhor forma de conter essa peste, está suspensa a partir de amanhã. Faltam doses e tudo fica como dantes no tal quartel de Abrantes. Nada mudou! Mudará um dia?
É sempre a mesma máxima de tantas mínimas criadas pelo nosso Barão de Itararé: “de onde menos se espera, é de lá que não sai nada mesmo”!
Que o Cristo Redentor nos proteja.
— Carlos Monteiro é jornalista