Medo de repórteres e ojeriza a jornalistas. Assim está sendo considerada a atitude de Arthur Lira ao retirar de onde funciona desde 1960 o Comitê de Imprensa da Câmara dos Deputados.
Menos de uma semana depois de vencer a disputa contra Baleia Rossi, Arhur Lira tomou tal decisão. O Congresso Nacional — que por inspiração de Juscelino Kubitscheck, foi tão bem projetado por Oscar Niemeyer — não é somente um edifício. É sobretudo uma instituição repleta de simbolismos. Um deles é a localização da sala destinada aos jornalistas ao lado do plenário que hoje recebe o honroso nome de Ulysses Guimarães.
É possível que sua visão provinciana não lhe tenha permitido perceber a importância de jornalistas e parlamentares terem proximidade no que tange ao trânsito de notícias. Oscar Niemeyer já explicou a relevância de dois espaços fundamentais na Câmara: um é assegurar o acesso da imprensa à “cara do gol” e o outro, com igual importância, é que o presidente da instituição siga um caminho entre seus pares, jornalistas e pessoas credenciadas ao acesso ao Salão Verde, até ao trono na Câmara.
Tentar escapar disso é fuga inútil. É vergonhosa a comparação com outros presidentes da Câmara dos Deputados que respeitavam a democracia. Por exemplo, do Doutor Ulysses Guimarães e Aldo Rebelo, de Luis Eduardo Magalhães e Michel Temer, de Paes de Andrade e Ibsen Pinheiro que — ao contrário do atual Lira — faziam questão de dar entrevistas no Comitê de Imprensa, agora extinto.
Eu mesmo sou jornalista credenciado há quase cinquenta anos na Câmara. E pude ver quantas vezes até Pereira Lopes e Zezinho Bonifácio, Flávio Marcílio, Marco Maciel e Nelson Marchezan quando presidiram a Casa, ainda nos tempos da ferrenha ditadura militar, não deixavam de ir ao Comitê para dar entrevistas.
Bom lembrar também que outros senhores que tiveram a mesma ideia quando presidiam a Câmara residem hoje na caixinha das tristes memórias, como Arlindo Chinaglia. Mais que isso, tiveram problemas — e grandes — com a Justiça: Severino Cavalcanti e Eduardo Cunha. Acredite, pois, a maldição do Comitê existe.