Dias após assumir a presidência da República no lugar de Dilma Rousseff, Michel Temer solicitou à sua assessoria que o Tribunal de Contas da União fizesse um levantamento preciso das peças que compõem o patrimônio dos palácios Planalto e Alvorada. Os auditores do TCU se debruçaram sobre a tarefa e, na semana passada, constataram resultado bem desagradável: em torno de 450 itens pertencentes ao acervo oficial não estão presentes.
São obras de arte – pinturas, esculturas, gravuras de autores famosos e consagrados da cultura brasileira – e relíquias históricas. Muitas delas nem têm preço, de tão raras que são. Impossível até definir um valor pecuniário para cada uma. Isso, não tem preço. São tão distintas e importantes para a história que não têm preço. Têm, sim, valor simbólico.
É o caso, por exemplo, da faixa presidencial. Isso mesmo, a faixa presidencial está desaparecida. Para muitos é somente um adereço desnecessário para enfeitar o busto da personalidade que comanda o país. No caso do Brasil, essa velha senhora completa agora em 2016, cento e seis anos de existência. O certo é que o relatório do TCU a inclui entre os itens faltantes do acervo palaciano.
A faixa presidencial é uma tradição que remonta aos tempos do oitavo presidente brasileiro, o marechal Hermes da Fonseca. Conta-se que sua esposa, Nair de Tefé – mulher de bom gosto, ardilosa e audaciosa, conhecedora das artes, da história e amiga da alta sociedade do Rio – exercia sobre o marido grande influência. E o sugeriu que, a despeito de vários países tê-la como representação do poder, fizesse uma lei que a fizesse existir no Brasil. Obediente, o marechal Hermes acolheu a opinião da primeira-dama e assinou o decreto 2.299, em 21 de dezembro de 1910, criando-a.
Virou tradição. De lá para cá 36 presidentes tiveram a primazia de ostentá-la nas cerimônias oficiais de gala, por exemplo nos desfiles do Sete de Setembro. Mas gora, a auditoria feita pelo Tribunal de Contas da União aponta que faixa a presidencial sumiu. Não se sabe ainda quem a fez desaparecer.
Suspeita-se que algum ex-assessor palaciano, desinformado sobre a importância da peça, dono de irresistível apego aos bens alheios e interessado em enriquecer o próprio bolso, a tenha vendido para algum despudorado colecionador de relíquias. Quem seria o autor de tão nefanda peripécia?