Na reta final da campanha para a eleição do presidente da Câmara, o governo resolveu entrar firme contra Marcelo Castro (PI), candidato oficial do mesmo partido do presidente Michel Temer, o PMDB, e — graças à divisão da oposição — conseguiu levar dois candidatos da base governista ao segundo turno: Rodrigo Maia (DEM-RJ), com 120 votos, e Rogério Rosso (PSD-DF), com 106.
Ambos têm boa relação com o ex-presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) — outro vitorioso da disputa. Mas Rogério Rosso era seu preferido, enquanto o Planalto apostou mais fichas em Rodrigo Maia.
A estratégia principal para esvaziar o candidato do PMDB foi convencer os deputados da bancada a despejarem votos em Rodrigo Maia, em nome de uma aliança com o PSDB, o DEM, o PSB e o PPS.
O ministro-chefe da secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, comandou pessoalmente a operação, ligando para deputados, neutralizando o ministro Leonardo Picciani (Esporte), que havia chegado a apoiar Marcelo Castro, e fazendo outros ministros do partido, como Helder Barbalho (Portos) e Eliseu Padilha (Casa Civil), telefonarem e receberem deputados.
O irmão de Geddel, deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), participou inclusive de um jantar na Liderança do DEM, pouco antes da votação, em que Rodrigo Maia foi recebido com palmas (veja vídeo).
Do lado da oposição, a avaliação do PT foi de que o partido teve pelo menos dez deputados que não votaram em Marcelo Castro e optaram ou pela candidatura de Luiza Erundina (Psol-SP), ou por Rodrigo Maia.
Somados estes votos aos votos da própria Erundina em outras legendas de esquerda, e às defecções do PCdoB, que chegou a lançar candidato próprio, avalia-se que Castro poderia ter tido uns 40 votos a mais do que os 70 que obteve. Ou seja disputaria o segundo lugar cabeça a cabeça com Rosso, que obteve 106 votos.
“É evidente que o Orlando Silva (PCdoB-SP) saiu candidato para rachar a esquerda e fortalecer o Rodrigo”, disse um petista reservadamente a Os Divergentes.
“O PCdoB fechou acordo com o Rodrigo para abafar a CPI contra a UNE” (União Nacional do Estudantes), protestou um aliado de Marcelo Castro.
Passada a votação, a bancada do PT reuniu-se para discutir como votar em segundo turno. O líder do PT, Afonso Florence (BA), chamava os colegas já avisando:
“Acho que a opção agora é o Rodrigo. Mas vamos discutir. O Rosso não dá.” No entanto, alguns deputados do partido diziam que não iriam votar em ninguém no segundo turno.