Um governo de brincadeira

Em Brasília, boa parte da população ficou em dúvida se aquele domingo era o Dia das Mães ou o Dia das Motocicletas, dada a junção das duas comemorações. Uma de família, outra de propaganda política motorizada. Demonstração de suposta força. Com o soar das buzinas e tendo a frente o presidente e atleta Jair Bolsonaro. Em ebulição para obter mais apoio popular e se reeleger Presidente da República.

Lula fala em São Paulo pela manhã; Bolsonaro, em Brasília, à tarde – Fotos Ricardo Stuckert e Orlando Brito

Seus contendores estão na expectativa do que poderão fazer de semelhante. O capitão percebeu que alcançar seu objetivo terá mais problemas do que imaginava, por isso começa a cuidar da pré-campanha. O fantasma do Lula voltou com cara de anjo liberado pela Justiça. Os demais ainda se organizam.  Bolsonaro é o mais animado e irritado – promove brincadeiras além dos limites da educação e do respeito – e imagina ter seu futuro político garantido. A ideia é mostrar a imagem de um homem preparado e disposto a explosões de iniciativas que ajudem a atingir seu objetivo.

O atleta candidato estimula manifestações ruidosas e exibicionistas em busca do agrado popular. Supõe poder transformar seu governo numa alegre brincadeira. Churrasquinho com amigos na piscina do Alvorada, desfile de motocicletas, deboche e xingamento de repórteres, governadores, autoridades do Judiciário. As milícias eletrônicas ativas na promoção. Classificando-se como um grande atleta do Exército, além das motos o candidato domina o jet sky, mas necessita outras modalidades para impressionar o público.

Jair Bolsonaro durante visita ao Centro de Treinamento Paraolímpico Brasileiro – Foto Marcos Corrêa/PR

Desde o início de seu governo, sem nenhum argumento plausível, o atleta Bolsonaro tenta desmoralizar a votação eletrônica realizada há anos no Brasil, com absoluto  sucesso. Sem risco de fraudes.  Ele quer o retorno do voto do papelzinho dobrado e colocado na urna, esse sim, altamente sujeito a fraudes. Agora apelidado de voto auditável, a insistência por tal mudança levanta suspeitas.

Jair Bolsonaro – Foto Alan Santos/PR

Um governo com eventos de lazer comandados pelo presidente ganha adeptos mas deixa outros aborrecidos pelos incômodos causados. Já se cogita de mais duas invasões de motocicletas, no Rio e em São Paulo, para repetir o exemplo de Brasília. E porque não uma exibição com mais de cem jet skys no Guarujá, já que a segurança vetou um voo de Asa Delta da Pedra da Gávea? Campanha cara mas divertida. E os palavrões se repetindo, no mínimo “sai da minha frente, porra”. Ele quer ganhar todas.

Nessas promoções político-eleitoreiras-esportivas é proibido falar de covid, falta de comida para o povo e outros problemas do governo. A finalidade é lutar para conquistar mais apoio popular.

— José Fonseca Filho é jornalista

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