Trégua pelo Brasil

A hora é de respeitar, além do resultado das urnas, as diferenças de pensamento, pelo bem do país

Em protesto, Cássia Kis diz que não vai deixar ‘comunismo’ entrar no Brasil - Foto Reprodução

Compartilhei no FB o artigo de Eduardo Affonso publicado no Globo no último dia 12. Falei que aquele texto tinha me feito refletir e repensar algumas atitudes.

Não costumo ler apenas aquilo que reforça meus pensamentos. Gosto de me deparar com formas diferentes de encarar determinados fatos e visões de mundo.

O colunista aborda o “cancelamento” que tem sido imposto à atriz Cássia Kis. Ele não passa pano para ela. Ao contrário, ressalta as diferenças do pensamento dele em relação ao dela e elegantemente chega a lhe fazer algumas críticas, mas defende que Cássia deve ser respeitada como atriz e cidadã. Affonso é a favor do confronto de ideias e não do cerceamento do pensamento alheio.

Gilmar Mendes (à esq.) e Ricardo Lewandowski (à dir.) foram hostilizados verbalmente ao saírem de hotel em Nova York, nos EUA – Foto Reprodução

Poderia começar tratando logo das agressões que os ministros do STF sofreram em Nova York, porém preferi olhar para meu próprio umbigo e admitir que às vezes todos exageramos.

Lembro que anos atrás, no auge da Lava jato, a jornalista Miriam Leitão foi agredida verbalmente num voo por petistas. Outros jornalistas da Globo sequer podiam trabalhar direito porque eram constantemente hostilizados.

Em 2013, a jornalista cubana Yoani Sánchez foi mal recebida e hostilizada por militantes de esquerda quando de sua visita ao Brasil pelo simples fato de fazer oposição ao regime de Cuba.

Assistindo na última segunda-feira o Papo de segunda, no GNT, concordei quando João Vicente de Castro disse que devemos propor uma trégua e essa trégua deve começar por nós. Que devemos procurar, sempre que possível, respeitar o lado de quem não pensa como a gente. E assim, quem sabe, conseguiremos fazer um pacto pelo Brasil.

Manifestação pró-Bolsonaro pede fechamento do Congresso e do STf – Foto Orlando Brito

A trégua talvez passe por tentarmos entender que nem todos que votaram em Bolsonaro são radicais da extrema direita que pregam a volta da ditadura militar. Dentre aquele grupo, havia pessoas que simplesmente preferiam, sem grande empolgação, o atual presidente a Lula. Ou que preferem o discurso liberal do Paulo Guedes. Ou concordam com a pauta conservadora dos costumes. Tudo bem, o esforço para entender isso é grande, mas é possível.

A grande questão agora é distinguir entre o que é aceitável, respeitável e negociável, e o que não é.

Foto Orlando Brito

Essa história de constranger políticos, autoridades, artistas e jornalistas pelo simples fato de terem desagradado a um grupo deve ser coibido com punição legal e uso da força policial, sem condescendência, independente do lado ideológico a qual pertencem.

Da mesma forma que manifestações antidemocráticas não podem ser aceitas como se fossem simples liberdade de expressão.

Liberdade de expressão é se manifestar contra certas atitudes de um gestor público, por exemplo. Mas não aceitar o resultado de uma eleição, cuja lisura foi comprovada por várias instituições, é tentativa de golpe, não podemos chamar de outra coisa.

Minha esperança é de que a copa do mundo e o espírito natalino arrefeçam os ânimos exaltados. Creio que haverá por muito tempo uma turba barulhenta querendo marcar presença para impor sua visão de mundo distorcida, mas aos poucos irão perdendo sua força e a sensatez prevalecerá.

Não torço para a vitória do pensamento único e monocórdico, acho saudável a coexistência de várias maneiras de pensar. Só precisamos aprender a exercitar mais a escuta e o respeito pelo próximo, seja ele quem for. Chegaremos lá.

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