Até Mourão tira sarro do sumiço de Bolsonaro após a derrota para Lula

Bolsonaro segue em seu inferno particular com medo de ser punido ou alguns de seu clã por malfeitos com dinheiro público

Presidente Jair Bolsonaro e o vice-presidente Hamilton Mourão - Foto Orlando Brito
O vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin e o ministroCiro Nogueira participaram de reuniões sobre o governo de transição em Brasília – Foto Lula Marques/PT/Divulgação

Lula tá nadando de braçada na Conferência do Clima no Egito. Em Brasília, Geraldo Alckmin toca a transição com todos os poderes como se navegasse em águas tranquilas. Jair Bolsonaro, que perdeu a luta por pontos, parece ignorar os espasmos aqui e ali de seguidores inconformados, e, de bermuda, comporta-se  como um nocauteado no Palácio da Alvorada.

Depois de tudo que rolou na campanha eleitoral, marcada por sucessivos estresses, parece surreal. Não é ruim. Pelo contrário, ajuda a desopilar o país que parecia irremediavelmente dividido. O problema é que, tanto como a guerra artificial alimentada durante anos, essa repentina “trégua” soa como falsa. Além de motivar variadas suspeições, gera um monte de piadas.

Presidente eleito, Luis Inácio Lula da Silva – Foto Orlando Brito

E até puxada de orelha de aliados. Nessa quarta-feira (16), quando teve que substituir Bolsonaro na recepção a novos embaixadores no Palácio do Planalto, o vice-presidente Hamilton Mourão, confortável na condição de senador eleitor, deu seu diagnóstico. Ao constatar que os 58 milhões de votos de Bolsonaro, mesmo perdendo a eleição para Lula, lhe dá um inegável cacife político, deu um estocada:

— O presidente Bolsonaro, quando emergir do retiro espiritual dele, vai compreender que ganhou esse capital. Acho que ele tem que se posicionar no espectro político, trabalhar politicamente. Vai ser a primeira vez que ele não tem mandato. São 33 anos. É uma vida.

Com toda delicadeza, de maneira intencional ou não, Mourão botou o dedo na ferida. A partir de 1 de janeiro, após décadas, Jair Bolsonaro ficará sem o escudo do foro privilegiado. Mais do que suas frustrações, tristezas e arrependimentos, são seus temores que, após a derrota para Lula, até agora o mantiveram inerte no Palácio da Alvorada.

Flávio, Jair, Eduardo e Carlos Bolsonaro – Foto Reprodução voaportugues.com

Aliás, esse medo de que seus malfeitos e do seu clã fossem punidos foi sua bússola em seus quatro anos de mandato. Motivou sua obsessão em controlar o Ministério Público, a Polícia Federal, a Receita Federal, o COAF, e a se jogar nos braços do Centrão. Sua gestão foi marcada por incessante busca de impunidade. A derrota na urnas, mesmo com tantas trapaças durante a campanha eleitoral nos dois turnos, reavivou seus fantasmas.

Bolsonaristas fazem manifestação em frente ao QG do Exército, em Brasília — Foto: Reprodução/Twitter

Enquanto alguns fanáticos seguidores, financiando ou financiados, seguem acampando na vizinhança de quartéis, Bolsonaro segue obcecado por algum tipo de anistia para si e os seus. O histórico da política nacional mostra que, em algum momento, tudo tende a virar pizza.

A conferir.

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