Só agora o Brasil percebe que milhões de seus filhos podem morrer de fome?

A dura realidade da Economia nas ruas do País - Foto Orlando Brito

Precisaria de uma pandemia, provocada por um vírus que  matou quase 350 mil brasileiros, para que nosso país viesse a reconhecer que milhões de nossos irmãos pobres estão sem comida e sujeitos a morrer de fome? Não necessariamente, mas está acontecendo, e tal realidade surpreende outros milhões de compatriotas, sem problemas de acesso ao dinheiro por quaisquer meios.

A causa dessa mortandade é o coronavírus, mas a pobreza já se espraia pelo país há muitas décadas, sem capacidade oficial para contê-la. Parece que ninguém percebia, principalmente nossos governantes, famosos pela incompetência. Quem não tem renda nem apoio social fica sem dinheiro para comprar comida. Já vivem em sub-moradias de péssimas condições, sem perspectivas de melhoras. No Nordeste seco a fome mata há muito mais décadas.

De repente jornais, revistas e TVs bombardeiam o país com a grande “novidade”: milhões de brasileiros estão sem comida nas ruas, nas favelas e nos barracos erguidos com pedaços de madeira e metais enferrujados. Muitos conterrâneos demonstram surpresa com tanta gente na miséria. Organizam-se em grupos para arrecadar alimentos  pessoas individualmente, empresas, indústrias, entidades.

Cena que se tornou comum – Foto Orlando Brito

Então a imprensa irradia outra terrível informação: as pessoas e grupos, empresas, entidades que vinham colaborando com a distribuição de alimentos aos necessitados não mais apresentam condições de ajudar os sofredores sem comida. Não dispõem mais de recursos para comprar e distribuir comida aos pobres. Muitas vezes mulheres sozinhas, cuidando de vários filhos, alimentados com sobras. Os governos, quando o fazem, distribuem merrecas sociais aos necessitados, Os pobres não tem comida, os poderosos não tem vergonha.

Nos últimos 3 anos, mais de 3,5 milhões de brasileiros foram acrescentados ao grupo sem acesso a um mínimo de alimentação, geralmente moradores de ruas ou de casebres insalubres. Pesquisas do IBGE indicam acréscimo de 10,4 milhões de brasileiros no grupo considerado vítima de total insegurança alimentar. Espécie de termo técnico para fome, miséria, abandono, imoralidade econômica, desgoverno.

A situação do Brasil sob o atual desgoverno é deplorável. A morte pela falta de comida, uma vergonha. Os grupos, pessoas e entidades que distribuem alimentos às dezenas de milhares de irmãos necessitados são brasileiros dos quais o país se orgulha. Os milhares de homens e mulheres das equipes médico-sanitárias que trabalham no tratamento aos milhões de vítimas da Covid no país são exemplos extraordinários de amor e humanismo.

A ausência de comida se alia à falta de moradia entre nossos irmãos, de tudo carentes. São Paulo, maior cidade do país tem também a maior favela, Heliópolis, com cerca de 200 mil pessoas. Paraisópolis, (SP), nome poético para a miséria, é favela ou bairro favelado com 25 mil moradores. No Rio destaca-se a da Rocinha, com cerca de 100 mil moradores e uma bela vista para o mar. Raro alívio para a amargura.

Os nossos milionários, ao contrário do que acontece nos países desenvolvidos e dotados de responsabilidade social,  não tomam iniciativas financeiras para apoiar a recuperação da pobreza no Brasil. Doando recursos ou criando programas de alimentação, saúde e educação para ajudar a recuperação das classes carentes. Os nossos milionários, de um modo geral, não praticam a filantropia, e talvez não conheçam bons exemplos.

Escola primária no interior do Brasil. – Foto Orlando Brito

Assim como muitos brasileiros estão sem comida, sem moradia, sem saúde e sem educação, o IBGE, notável instituto de pesquisa e estudos, responsável pela revelação da realidade brasileira, está em sérias dificuldades.

O IBGE não poderá fazer o censo geral marcado para este ano, já atrasado. A presidente, altamente qualificada, pediu demissão, sem condições de trabalho. Do orçamento de R$ 2 bilhões necessário para  sustentar a entidade e realizar o censo nacional, restou quase nada. O presidente Bolsonaro cancelou mais de 90% do orçamento já aprovado. O que sobrou não dá nem para fazer o censo de Fernando de Noronha.

— José Fonseca Filho é jornalista

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