Ser ou não ser, eis a questão

O sentimento que assombrava milhões de membros da comunidade LGBTQ nos primeiros dias da epidemia de AIDS está de volta, quando a covid-19 colocou os Estados Unidos de joelhos. O medo do desconhecido, no entanto, agora parece familiar

A cada dia fica mais claramente provado que os brasileiros estão vivendo num país sem um comandante. A história registrará como a mais marcante característica de Jair Bolsonaro, o presidente brasileiro, um senso de sarcasmo especialmente desenvolvido, embora a maioria dos seus eleitores não se importem com o seu comportamento.

Nós, seres humanos, estamos caminhando para um dos períodos negros da nossa história. Mas a mensagem que Bolsonaro dirige à nação parece irresponsável e criminosa.

Nasci em Brasília, no dia 31 de maio de 1960. Fui aluno do Colégio Marista, hoje conhecido como Maristinha. Na minha época, os discípulos de Marcelino Champagnat flertavam com a Teologia da Libertação.

Os irmãos Maristas e os meus pais me ensinaram que todos nós temos obrigação em ajudar a construir um mundo mais justo e fraterno.

Moro no subúrbio de Nova York, onde a pandemia vem fazendo um estrago emocional, espiritual e material. Há cinco meses, candidatei-me para ser voluntário da vacina contra o covid-19.

Vacina contra a Covid-19

Nos próximos dias, os cientistas da Moderna me informarão se eu recebi o placebo ou a vacina na observação. Não é a primeira vez que participo como voluntário de uma pesquisa científica.

Em meados dos anos 80, o mundo parecia estar em uma zona de guerra. Jovens morriam numa velocidade espantosa. Encontrava com um amigo que parecia saudável uma semana e, em poucas semanas, o jornal local publicaria seu obituário.

Ao longo dos anos, perdi a noção de quantos amigos morreram de AIDS. Mas em cada funeral, ao ler cada obituário, sempre pensava quem seria o próximo.

O script parece o mesmo.

O sentimento que assombrava milhões de membros da comunidade LGBTQ nos primeiros dias da epidemia de AIDS está de volta, quando a covid-19 colocou os Estados Unidos de joelhos. O medo do desconhecido, no entanto, agora parece familiar.

O que mais compartilho com as pessoas é repartir – sentimentos- com os outros, porque foi a única coisa que nos ajudou a superar os primeiros dias da crise da AIDS – foi estarmos presentes uns aos outros.

Não tínhamos muita esperança, mas o que podíamos fazer era estar lá e compartilhar a dor que outras pessoas sentiam e, com sorte, torná-la um pouco menor.

A AIDS neste momento não é uma sentença de morte. É algo que o paciente pode controlar, se tomar o remédio.

Cada um de nós tem obrigação moral de defender os pobres e oprimidos. E, por isso mesmo, que participei como voluntário da AIDSVAX.

De mais a mais, a educação do Maristinha é impossível de se esquecer. No final do estudo, portanto, fiquei sabendo que tinha recebido o placebo. Se tivesse tomado a vacina, teria que carregar um vírus sintético no meu corpo para o resto da minha existência.

AIDSVAX foi uma vacina experimental contra o HIV desenvolvida originalmente na Genentech em San Francisco, Califórnia, e posteriormente testada pela empresa VaxGen, uma ramificação da Genentech.

O desenvolvimento e os testes da vacina receberam cobertura significativa na mídia internacional, mas os testes se mostraram inconclusivos. O projeto contou com 5 mil voluntários em todo o território americano.

É muito triste ver líderes de países não levando a sério uma pandemia, que parece não ter limites.

Estamos agora envolvidos em outro episódio mortal na batalha histórica do homem contra o micróbio.

Vacina contra a AIDS

Esses confrontos moldaram o curso da evolução humana e da história. Vimos a cara do nosso inimigo, neste caso, um pequeno vírus. No final de 2019, o número global de mortes causadas pelo HIV era de aproximadamente 35 milhões de pessoas. Ao todo, 76 milhões de pessoas foram infectadas e os cientistas estimam que mais 1,7 milhão de pessoas adquirem o vírus a cada ano. A doença enfraquece significativamente o sistema imunológico, deixando as pessoas vulneráveis a infecções e à morte. É uma das epidemias mais destrutivas da nossa história.

Somos milhões de seres humanos em todo o mundo que estamos lutando a nossa segunda batalha contra um assassino global desconhecido.

A ciência salta para a escuridão, o limite do conhecimento humano. É aí que começamos como se estivéssemos no fundo de uma caverna, escavando uma parede de pedra dura. Você não sabe o que encontrará do outro lado. Algumas pessoas lascam por toda a vida, apenas para acumular uma pilha de flocos. Podemos ter uma pandemia prolongada ou ter sorte com tratamentos e vacinas eficazes e eficientes.

Mas já estivemos aqui antes, enfrentando um inimigo viral desconhecido, e podemos confiar nas lições que aprendemos. Esta não é a primeira e não será a última epidemia global.

Trata-se, também, de uma preocupação com as novas gerações, cuja futuro está em jogo.

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