Rio procura governador que não seja corrupto  

Palácio Guanabara, sede do governo carioca

Nos últimos  anos o Rio de Janeiro teve  cinco  governadores  corruptos. Ladrões.  Ladrões mesmo. O melhor  desempenho  nesta atividade  foi o do governador  Sérgio Cabral, possivelmente porque,  reeleito, teve  tempo de completar o que não tinha conseguido abocanhar  no primeiro mandato. E partir para  empreendimentos  mais ousados,  com a participação  de sua mulher e sócia, Adriana, advogada especializada em burlar  restrições legais. Era dela o cachorrinho que às  vezes o helicóptero  oficial  levava para a mansão do litoral  fluminense  que Cabral recebeu em troca da concessão de obras  a uma empreiteira.

Ex-governador Sérgio Cabral preso pela Federal – Foto Reprodução da tv

Foi uma dupla  eficiente  na tarefa de dilapidar o erário público do Rio de Janeiro. O casal que rouba unido, enriquece  e permanece unido. Até a polícia chegar.  O gosto  feminino   deu  prioridade  às  jóias,  antiguidades, peças  de arte e barras  de ouro, exigências  da madame, à qual Cabral não ousava contrariar. Tais  itens passaram a ser prioridades  nos roubos  do casal.  Viviam  nababescamente,  chegando a montar  empresa para  administrar os produtos  da quadrilha  chefiada  pelo  governador.  A partir  do pioneirismo de Cabral, o Rio começa a sofrer os ataques  dele e da mulher, exemplo seguido por mais quatro  governadores. Todos  foram presos, mas hoje o único na cadeia e condenado é Cabral. Os outros estão presos em suas casas,  aguardando  eventual punição.

Anthony Garotinho, também preso. Foto Orlando Brito

Egresso do subúrbio e ascendendo na ribalta política  carioca, foi eleito o governador Anthony Garotinho, populista, que viria a ser mais um na lista dos corruptos, e já com fama adquirida  em  trambicagens   no interior. Ele atuava em parceria com sua mulher, que anos mais  tarde foi igualmente  eleita governadora,  e  também  se envolveu  com a corrupção. A governadora Garotinha, mais um caso de casalzinho  corrupto na política, atuava  em  conexão com o marido. O que Garotinho não conseguiu fazer em matéria de bandalheira em sua gestão, Garotinha  anotou  e  deu  seguimento ao processo durante  seu mandato. Fique  tranquilo bem, não lhe vai faltar nada, disse a governadora Garotinha  ao  governador Garotinho.

Nessa época,  a população carioca já  indagava o que havia  feito de errado para merecer tamanho castigo. Praticamente um larápio  atrás do outro. Ou seja, um ladrão querendo  superar o outro, a ver qual seria o mais competente nessa  corrida  de especialistas.  Todos  os cinco governadores  que entraram  na  roubalheira  praticamente  se equiparam  nas conquistas  alcançadas.  Cabral, com alguma razão, diz que ninguém  o superou nas  conquistas materiais e financeiras.   Mas a tragédia  vivida pela população carioca continuava. É que os bandidos  são como os políticos:  gostam de se superar uns aos outros.  A disputa nunca  acaba.

Fernando Pezão: outro ex-governador do Rio preso – Foto Orlando Brito

Outro corrupto famoso virou governador depois de ser vice de Cabral. Saiu um ladrão, entrou outro. Pobre  povo carioca.  Foi o governador  Pezão, e pezão não era apelido. Era nome próprio, adequado para a provocação  do povo irritado:  Pezão, ladrão; Pezão, ladrão,  era o refrão preferido. Em dias de menos  despachos,  ele simulava uma dor repentina  nos calcanhares  e saía mais cedo, de sandálias. A  tiracolo uma sacola com seus sapatões,  e neles alguns  itens  surripiados previamente no palácio. Nesses  casos  eram levadas  geralmente  jóias, por causa do tamanho.  Mas nesse dia – ufa! – ele pegou uma caneta  de ouro que namorava desde o dia  da posse.  Pezão era tido como uma pessoa meio lerda, sem dinamismo.  Para trabalhar,  pode ser.

O governador do Rio, Wilson Witzel – Foto Orlando Brito

Quando os cariocas  imaginavam  já ter visto tudo de bandalheira no governo do Rio, surge mais uma atração  curiosa. Um desconhecido  se elegeu governador  fazendo  média com Bolsonaro, e já pensando em ser um futuro presidente da República.  Ele  próprio dizia isso.  De nome complicado,  era o governador Wilson Witzel, ou Witzel  Wilson, ou Willy  Wilson. Ou  WW. Disse que ia construir sete hospitais  para atender  as  vítimas da Covid-19 mas fez apenas  dois. Que mal funcionam.  Seus  assessores na Secretaria da  Saúde  passaram a mão no dinheiro destinado  à compra de remédios  e testes para as  vítimas  da pandemia.

O curioso e inexplicável  nesse fenômeno de natureza  política ou psicológica  é que todos  esses corruptos foram eleitos pelo povo carioca, com boas  votações, em eleições democráticas. O eleitorado errou cinco vezes. Naturalmente  quem  tem o instinto malévolo e o caráter deformado não hesita em  promover  falcatruas. Presos, sonham  com um advogado miraculoso e um habeas corpus  libertador, emanado do STF.

Esses bandidos engravatados não pensavam  em trabalhar pela melhoria da situação do povo carioca nem por uma administração decente. Queriam  o governo para,  através  dele,  roubarem  o Estado.  Apoderando-se  criminosamente  dos recursos para obras em benefício da  população, promovendo tráfico de influência e recebendo  propinas. Cinco governadores bandidos.

— José Fonseca Filho é Jornalista

Deixe seu comentário