Quem se absteve de votar considera que votou melhor do que os votantes

Eleitor brasileiro - Foto Orlando Brito

Avaliar o resultado de uma eleição com destaque para os partidos que obtiveram mais votos, e em consequência elegeram mais prefeitos e vereadores, não é exatamente a melhor maneira de examinar os resultados de uma eleição municipal. Aqui na Pátria dita Amada, onde existem mais de 30 partidos, a grande maioria totalmente desimportante, são apenas umas três letrinhas e uns poucos candidatos nelas pendurados, a fim de conseguir um emprego com 4 anos de estabilidade. Além de salários  variáveis, sempre para cima, porque  quem os define são os vereadores eleitos. E no Brasil, os legisladores não costumam fazer economia quando tratam de seus  subsídios.

No caso das eleições do domingo passado, um outro partido surgiu na última hora para abocanhar mais votos do que todos as demais legendas, mesmo ainda em fase de organização, embora com boa penetração em todos os Estados. O PAL (Partido da Abstenção Legal) atingiu votação maior do que a de todos os seus confrades, como dizem os locutores esportivos. Chegou a obter 29,5% de todos os votos, superando a votação obtida no pleito anterior. Parece ser uma legenda de futuro, que evoluiu bastante desde o último pleito.

Tal resultado demonstra duas questões básicas que devem ser resolvidas rapidamente, antes  que a abstenção chegue  à metade dos votos válidos. Os políticos poderiam responder a 3 propostas para enfrentar o problema, já que são diretamente responsáveis no caso: tornar o voto facultativo; limitar os partidos a dez, no máximo; e aumentar a multa para quem não vota sem justificação, dos atuais R$ 2,00 para R$ 1 mil. A outra alternativa seria irrealizável: obrigar os 250 mil candidatos à vereança a passar por um programa de atualização cultural e obter declaração de Nada Consta da Polícia Federal. Das delegacias locais não serão válidas.

Foto Orlando Brito

Esta última campanha apresentou mais uma novidade em relação às anteriores. Muitos candidatos resolveram se apresentar aos eleitores com o nome mais condição profissional. De preferência que inspire medo, respeito ou capacidade de sedução ao eleitorado, com destaque  para denominações militares. O pobre  eleitor não sabe se corre o risco de ser preso, se não votar no Sargento Eutanásio. Vejamos outros candidatos: para prefeito, Delegado Zezão; para prefeito Delegado Toninho Mira Boa; para vereador Delegado Federal Maneco Pinto: para prefeito Delegado Federal Chiquinho Gavião; para vereadora  Enfermeira Clara Gomide, que cuida de seu covid. Mas nenhum informa que tipo de delegado é. Basta ser delegado.

O povo brasileiro poderá ficar, entretanto, mais tranquilo. Entre os eleitos, a maior parte dos prefeitos demonstrou repulsa ao clima de ódio e conflito vigente no país desde o advento do atual governo, e se revelaram dispostos a praticar politica em nível civilizado. E se dedicarem com mais  afinco ao combate  ao covid-19. É possível que tais coisas aconteçam, o que seria ótimo para o país. Caso contrário, nas próximas eleições a legenda que mais vai crescer novamente será o PAL, (Partido da Abstenção Legal). Além dos votos em branco do eleitorado passar, com folga, além dos 30% atuais.

— José Fonseca Filho é jornalista

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