Produtores de commodities também são capazes de inovar: o caso Suzano

A nanocelulose gera uma fibra para a fabricação de fio de tecidos totalmente natural, que não usa químicos nocivos, nenhum tipo de solvente. nem microplásticos, e apresenta uma redução de 60% na pegada de carbono e 90% no uso de água quando comparado ao fio de algodão

FuturaGene: em Israel e no Brasil

Recentemente, a Dynamo, uma das gestoras mais respeitadas do Brasil, abordou, em suas cartas mensais para investidores, a evolução da Suzano, empresa onde investe com seus fundos de ações. A publicação aborda várias atividades, porém um dos pontos positivos da empresa é o DNA de pesquisa e inovação, a partir do qual se estabelece uma plataforma de rotas tecnológicas promissoras.

Hoje, a Suzano é a maior produtora mundial de celulose do mercado com sete plantas no país e 1,3 milhão de hectares de florestas plantadas e certificadas. A empresa é a primeira a produzir em escala comercial papel 100% à base de celulose de eucalipto. Além disso, inovou em vários produtos: primeira fabricante do mundo a produzir a celulose usada na produção de fraldas e absorventes higiênicos a partir da fibra curta do eucalipto, primeira a conseguir aprovação para o uso comercial de uma variedade de eucalipto geneticamente modificado, pioneira na produção de papéis reciclados de alta qualidade para impressão a partir de aparas e na produção de papéis sanitários tissue de forma integrada à produção de celulose.

A área onde a inovação tem sido particularmente relevante é a silvicultura. Nos últimos cinquenta anos, os ganhos de produtividade da floresta no país saltaram de 17-20 m³/ ha-ano para até quase 60 m³/ha-ano. E não é só por causa do clima. Ciência e tecnologia explicam parte importante do desempenho, a partir de um trabalho meticuloso de seleção, clonagem e pesquisa genética desenvolvido por décadas pelas grandes empresas do setor (Suzano/Fibria/Aracruz, Klabin, VCP e Duratex), em conjunto com os institutos de pesquisa e universidades.

Um dos registros mais marcantes foi o desenvolvimento do clone híbrido pela Aracruz, após ataques devastadores de fungos que quase inviabilizaram o projeto pioneiro no Espírito Santo no início da década de 70. Aliás, aqui outro capítulo extraordinário da história do empreendedorismo no setor, liderado pela família Lorentzen.

Linha de produção da Suzano – Divulgação

A Suzano também está no mundo digital, empregando analytics e big data, que permite encontrar a melhor solução de clonagem para cada região. Já a FuturaGene, subsidiária integral e líder em biotecnologia florestal com centros de pesquisa no Brasil e em Israel, tornou-se em 2015 a primeira empresa no mundo a obter aprovação para plantar uma variedade de eucalipto geneticamente modificado com aumento de produtividade.

Outro produto é a nanocelulose, micropartícula da celulose, com uma espessura dez vezes menor do que um fio de cabelo. As aplicações potenciais são inúmeras, desde papéis e embalagens, tintas, cosméticos, espessantes até fármacos e alimentos. A Suzano tem avançado na sua aplicação para a substituição de matéria-prima fóssil em produtos de limpeza e na fabricação de tintas e telhas de fibras de cimento, mas a linha de utilização mais avançada é no setor têxtil, através de sua participação na Spinnova. A startup finlandesa desenvolveu um processo capaz de transformar a nanocelulose em uma fibra descontinuada usada na fabricação dos fios que formam tecidos.

O produto, totalmente natural, biodegradável e reciclável, não usa químicos nocivos, nenhum tipo de solvente, nem microplásticos, apresenta uma redução de 60% na pegada de carbono e de 90% no uso de água, quando comparado ao fio de algodão. Não à toa, já despertou atenção de parceiros como Adidas, The North Face e H&M.

Por essas inovações podemos ver que empresas que produzem commodities não necessariamente ficam acomodadas nos produtos e serviços comercializados em escala.

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