Por que cresce a avaliação negativa de Bolsonaro

Jair Bolsonaro - Foto Orlando Brito

Destaques:

● Pela primeira vez, avaliação negativa de Bolsonaro é superior à do Congresso;

● Cresce percepção de aumento de corrupção após aproximação com centrão e saída de Moro;

● Crise afeta percepção econômica, e maioria quer mudança de rumo na economia com maior intervenção do Estado;

● Cresceu a percepção de que Bolsonaro é o maior responsável pela situação econômica atual, sendo mais responsabilizado que Dilma Rousseff e Michel Temer.

Dimensionando a avaliação negativa

Aqueles que avaliam o governo como ruim ou péssimo chegaram a 49%, sete pontos percentuais a mais que a última rodada. Para agravar, o crescimento de Ruim/Péssimo ocorre com diminuição de Ótimo/Bom, que caiu quatro pontos. Essa variação extrapola a margem de erro e segue tendência que já avaliei em outro artigo. Em 16 meses de mandato, a percepção positiva do governo perdeu 13 pontos percentuais, quase um por mês. Ao mesmo tempo, sua avaliação negativa subiu 29 pontos, quase dois a cada mês. Chegamos ao ponto em que Bolsonaro tem avaliação negativa maior do que o Congresso Nacional (49% a 42%).

Percepção sobre a corrupção

O ex-ministro Moro – Foto Orlando Brito

A percepção que a corrupção não é um problema superado e de que ela voltaria a crescer vinha se desenvolvendo desde o início do mandato. No início, era majoritária (56%) a percepção de que ela diminuiria, enquanto poucos (17%) enxergavam possibilidades de que ela aumentasse. Desde então, cresceu o ceticismo, a ponto de se inverter a proporção. Desde janeiro deste ano os mais céticos passaram a ser maioria (32% a 30%). A diferença ampliou-se, sendo hoje: 45% o que acreditam em aumento da corrupção contra 18% que ainda acredita que o problema irá diminuir. Isso parece ter clara relação com a saída de Sérgio Moro e a aproximação do Presidente com figuras do Centrão. A interlocução com atores desse segmento parlamentar é ambígua. Se de um lado é institucionalmente necessária, de outro acarreta desconfiança em um setor do eleitorado. Ao adotar um comportamento estigmatizado ao longo dos últimos anos, Bolsonaro não tem opção a não ser lidar com a ambiguidade.

A crise econômica

Sobre a melhor maneira de recuperar a economia depois da pandemia, a maioria optou pela saída que coloca o governo numa posição delicada no tabuleiro. A maioria dos entrevistados (62%) prefere a mudança de política econômica, com mais investimento do governo. Os que preferem a política atual de enxugamento de gastos e maior participação do setor privado nos investimentos ficaram em 29%. Além disso, 52% afirmaram que a economia do Brasil está no caminho errado. Os desdobramentos econômicos do pós-pandemia serão decisivos para o Presidente. Atuação do Ministério da Economia ocupará grande espaço da agenda nacional.

Está cada vez mais difícil culpar o passado

O ex-presidente Temer – Foto Orlando Brito

Segue em crescimento a proporção de pessoas que atribuem a Jair Bolsonaro a responsabilidade pela situação econômica do país. A porcentagem que começou em razoáveis 3% hoje está em 20%. Desde dezembro do ano passado a responsabilidade atribuída a Bolsonaro é maior do que a atribuída a “fatores externos”, hoje com 13%, e a do que é atribuída ao “governo Temer”, com 6%. Desde janeiro deste ano, ela superou a responsabilidade atribuída ao governo Dilma Rousseff (14%). Assim, compreende-se melhor a atitude do Presidente de se antecipar aos desdobramentos da pandemia, tentando transferir a culpa da crise econômica aos governadores, prefeitos e STF. Ainda é uma incógnita se isso terá eficácia.

Pesquisa: Instituto XP

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