O governo está declarando ‘independência do vírus’ antes da hora

Covid: O presidente Joe Biden na celebração do 4 de Julho

Menos da metade do país está totalmente vacinado contra a Covid-19 e a variante contagiosa Delta está se espalhando de uma forma vertiginosa, tirando o sono da comunidade científica americana.

A ideia de assessores do presidente Joe Biden de celebrar a “independência do vírus” no dia 4 de julho chegou a uma realidade incerta: menos da metade dos cidadãos americanos está totalmente vacinada contra o covid-19, e a variante Delta altamente contagiosa está ameaçando novos surtos.

Ansiosos para reivindicar o crédito pelo total controle do vírus nos Estados Unidos, os democratas estão pregando um “verão de alegria e liberdade”.

Diversos cientistas temem que cenas de luxuosas comemorações pelo país – incluindo uma festa na Casa Branca com o tema de libertação – enviaram a mensagem errada quando grandes faixas da população permanecem vulneráveis e a verdadeira independência da pior crise de saúde pública em um século não tem data certa para acontecer.

Atendimento a paciente com Covid nos Estados Unidos – Reprodução ABC

O país ainda está no meio deste tenebroso pesadelo. Apesar do progresso considerável na redução do número de casos e mortes por coronavírus no país nas últimas semanas, a comunidade científica diz que ainda é muito cedo para desfraldar a bandeira de missão cumprida. É muita irresponsabilidade da Casa Branca, desabafam diversos cientistas.

Sugerir que o país está superando a pandemia é uma tarefa perigosa e insensata para Biden e seus companheiros democratas, que devem executar com cautela a reabertura total da economia e o retorno da moral nacional aos trilhos.

Embora o relatório de empregos da última sexta-feira tenha sido promissor, mostrando que os empregadores contrataram 850 mil trabalhadores em junho, a recuperação econômica está longe de ser concluída. Os republicanos estão culpando o aumento dos benefícios de desemprego relacionados à pandemia por impedir as pessoas de voltar ao trabalho e travar a recuperação. Esses benefícios expiram em setembro de qualquer maneira, e Biden está enfrentando pressão para mostrar mais crescimento antes disso.

Mas o otimismo da Casa Branca está atingindo uma nota amarga para alguns. Em entrevistas, diversos parentes e amigos das vítimas da covid-19 disseram que era muito difícil ouvir as declarações de Biden sugerindo que a nação estava voltando ao normal enquanto eles ainda estavam de luto.

Não há volta à normalidade para os parentes e amigos das vítimas da covid-19. É muito desesperador quando o governo está encorajando o cidadão virar a página dessa tragédia. Milhões de cidadãos perderam seus entes queridos. Nunca vão superar esse drama.

Pegou muito mal

A tropa de choque da Casa Branca disse que o presidente não estava declarando vitória, mas simplesmente queria fazer um balanço dos ganhos que o país havia obtido contra o vírus desde que ele assumiu o cargo há seis meses e meio.

Donald Trump deixa a Casa Branca – Foto Joyce N. Boghosian

Os Estados Unidos deram um passo significativo contra a pandemia desde que o democrata assumiu o cargo em 20 de janeiro, alertando sobre um “inverno sombrio” pela frente. Balanços diários de novos casos estão se mantendo em cerca de 12 mil, o menor desde que os testes se tornaram amplamente disponíveis, abaixo dos cerca de 200 mil no dia que Donald Trump deixou a casa Branca.

É bom ressaltar que o governo vem executando uma campanha eficiente e eficaz contra o covid-19. O país contabiliza hoje uma média de menos de 300 óbitos diários, um declínio de cerca de 20 por cento nas últimas duas semanas. As hospitalizações também estão diminuindo.

Há dois países diferentes dentro dos Estados Unidos, pois os avanços têm sido desiguais, com uma grande parte dos casos surgindo em diversos pontos críticos, particularmente onde as taxas de vacinação são baixas. Las Vegas, a zona rural de Utah, a zona rural de Arkansas, Cheyenne (Wyoming) e Missouri Ozarks estão entre as regiões que a variante Delta vem se propagando de maneira vertiginosa.

Mas a emergência nacional declarada pelo presidente Trump continua em vigor até o final do mês, e a Casa Branca já avisou s governadores que Biden planeja estendê-la.

Cuidados sanitários nos restaurantes americanos

A campanha de vacinação, entretanto, está se arrastando, com cerca de um milhão de vacinas administradas a cada dia. Biden esperava ter 70% dos adultos pelo menos parcialmente vacinados até 4 de julho, mas a Casa Branca admitiu no mês passado que não alcançaria essa meta.

A maneira mais correta de proteção, dizem os especialistas, é se as pessoas estão totalmente vacinadas; apenas 46% dos americanos se enquadram nessa categoria. Com crianças menores de 12 anos ainda inelegíveis para a vacina, levará algum tempo até que a grande maioria dos Estados Unidos esteja totalmente vacinada. As autoridades de saúde pública estão particularmente preocupadas com os surtos quando as aulas forem retomadas no outono.

Em uma época em que a vacinação se tornou um assunto de intenso debate político, as principais festas de 4 de julho na capital americana não exigiram que os convidados fossem vacinados. Mas eles tiveram que a apresentar evidências de um teste negativo de Covid-19 feito dentro de três dias dos eventos, e os anfitriões aconselharam aqueles que não foram vacinados que “deveriam usar uma máscara”.

Assessores de Biden frisam que es requisitos foram “muito sensatos” e uma demonstração de comportamento responsável da atual administração. Testes, máscaras faciais, vacinas: esses são os requisitos para a libertação desta ameaça sinistra.

Há tanta política tóxica em torno da covid-19 que está restringindo uma ação sensata. Obviamente, faz sentido exigir prova de vacinação em vários ambientes, mas isso se tornou um sério problema político.

Cientistas americanos temem que, se a variante Delta continuar a circular, sofra uma mutação que deixará até mesmo os vacinados vulneráveis.

Coréia do Sul – Foto Reprodução – EuroNews

Isso já parece estar acontecendo em outras partes do mundo; mesmo países como Coréia do Sul, Israel e Austrália, onde o vírus parecia estar sob controle, têm novos grupos de cidadãos infectados. O governo australiano avisou que o país reabrirá as suas portas para turistas internacionais somente em Julho de 2022.

Antes de participar de festanças, soltar fogos de artifícios e tomar margaritas nas suas luxuosas mansões, os dirigentes americanos deveriam deixar bem claro, como zelosos servidores públicos, que a nação ainda tem sérios desafios e obstáculos pela frente.

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