O fascismo morreu ou não

Hitler e Mussolini pareciam salvadores da pátria. Defesa da família; dos valores nacionais; da honra; contra o comunismo; a corrupção; ódio seletivo a estrangeiros e aos lucros de bancos. Agora tudo vai se repetindo.

Jair Bolsonaro no topo da rampa do Planalto. - Foto Orlando Brito
Benito Mussolini (ao lado de Hitler) foi o grande líder do fascismo italiano

Hitler e antes dele Mussolini pareciam salvadores da pátria no século passado. Defesa da família; dos valores nacionais; da honra perdida após 1918; contra o comunismo; a corrupção; com um ódio seletivo a estrangeiros e quanto aos lucros de bancos; etc.

Você leitor e eu, estivéssemos lá na Itália e na Alemanha nos anos vinte e trinta do século passado, tenderíamos a seguir a maioria nessa toada saneadora. No sul e Sudeste do Brasil em pleno 2022 crescem os bolsonaristas e entre eles, parcela significativa da extrema direita fundamentalista, disposta a eliminar os “vermes” vermelhos. É uma realidade para uma população mais instruída do país. Uma incógnita. Há em Blumenau de hoje uma nostalgia daqueles tempos em que grandes empresários instalavam caixas de som nas ruas para a população ouvir, histericamente, os discursos de Hitler, o grande timoneiro da paz. Muito estudada a relação do fascismo com as massas (Freud, Adorno, Reich, etc).

Vladimir Lenin e Josef Stálin

Em crises profundas o homem busca líderes autoritários, não importam as suas cores. Com a palavra Lenin, Stálin, Mao, entre outros protagonistas do totalitarismo. Eles preenchem vazios profundos e fissuras emocionais em indivíduos fragilizados, criando uma sensação de relativo encontro com algum sentido para suas vidas ressentidas.

Com Adolfo e Benito deu no que deu. Não há mais comunismo. E olha que após o fim da segunda grande guerra em 1945, graças ao nazismo e o fascismo o sistema comunista agigantou-se, com o império soviético dos socialismos reais.

Nos países do Norte ninguém se refere mais a partidos comunistas seriamente, senão comicamente, e no deboche. O fórum de SP morreu. Hoje a briga é sobre qual caminho dirigir o mercado. E tentar manter vivas as instituições representativas da democracia liberal, destruídas pelo rentismo canibalizador dos mercados.

No Brasil não temos, como na Europa, o medo e a ojeriza com a migração. Nosso medo é com uma certa saudade do futuro.

Jair Bolsonaro no Exercito

E eis que surge o nosso candidato a Duce tupiniquim, o Füher tropical. Não se sabe se foi também um artista medíocre, a julgar pelas histrionices chulas. Militar rejeitado, foi forçado a sair do Exército por tentativa de ato terrorista. Parlamentar picareta a julgar pela improdutividade na Câmara Federal. No clima antilulista, em boa medida programado executado no massacre da Lava Jato e sob a indústria de fake news, eis que em 2018 ascende ao poder máximo da República um capitão renegado. Vencendo um professor Doutor da USP.

Agora tudo vai se repetindo. A “pós-verdade” entre nós é mentira assumida como verdade absoluta da parte de uma família de milicianos acima da Justiça, da mídia, dos políticos eleitos. Os prejudicados que busquem a o Poder Judiciário. Ferrem-se. Importante no protofascismo é a comunicação direta com as massas, sem intermediações, conduzidas por um maestro dos horrores.

E por um instante eu mesmo passei a me indagar sobre a validade de abrigar o bolsonarismo no guarda-chuvas do fascismo, afinal, o terror na Europa matou milhões e qualquer comparação corre o risco de subestimar a dimensão de duas realidades distintas. Daí releio Madeleine Albright (Fascismo: um alerta, trad. Jaime Biaggio, 2 ed., São Paulo, Crítica, 2018, 299 p.) e mudo de ideia: “… a democracia está hoje ´sob ataque e recuando? Por que tanta gente em posições de poder vem tentando minar a confiança popular nas eleições, nos tribunais, na mídia e – questão fundamental do futuro da Terra – na ciência? (…) E por que, a esta altura do século XXI, voltamos a falar de fascismo?” (p. 12) “Quando se discute esse assunto, é frequente haver confusão quanto à diferença entre fascismo e conceitos semelhantes, como totalitarismo, ditadura, despotismo, tirania, autocracia. Na condição de acadêmica, poderia me sentir tentada a me embrenhar por esse espinheiro, mas como ex-diplomata, minha preocupação é com ações e não rótulos. A meu ver, um fascista é alguém com profunda identificação com um determinado grupo ou nação em cujo nome se predispõe a falar, que não dá a mínima para os direitos de outros e está disposto a usar os meios que forem necessários – inclusive a violência – para atingir suas metas.” (p. 19).

Diante do risco mais do que nunca, a conclusão imediata é: dia 30 vote 13.

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