No aeroporto de Amsterdam, na Holanda, as autoridades colocaram a imagem de uma mosca preta em cada mictório para os homens não errarem a pontaria. A mosca falsa reduziu em 80% a quantidade de urina que cai fora. Em Copenhagen, na Dinamarca, é estimado que 1 em cada 3 indivíduos vão, ocasionalmente, produzir lixo nas ruas. Uma equipe de pesquisa colocou uma série de pegadas até a lata de lixo mais próxima e distribuiu balinhas para os pedestres. O resultado mostrou uma redução de 46% de papéis de bala espalhadas pelas ruas, ao fazer com que os pedestres fossem até a lixeira descartar corretamente.
Um “nudge”, conceito teorizado por Richard H. Thaler, um dos pais da Economia Comportamental, ganhador do Prêmio Nobel de economia em 2017, tem como objetivo alterar o comportamento das pessoas de um modo previsível, mas sem proibir quaisquer opções e nem alterar significativamente seus incentivos econômicos. “Nudges” pode ser traduzido como “empurrõezinhos” que estimulam que tomemos as decisões desejadas naquele momento.
Nos Estados Unidos, para melhorar a alimentação das crianças nas escolas, se identificou que o consumo de maçãs aumentou mais de 60% quando eram servidas fatiadas. A maçã fatiada é muito mais fácil de comer. Tão fácil quanto comer salgadinhos. Se uma escola quer incentivar uma alimentação saudável na cantina, outra ideia é simplesmente colocar as opções saudáveis mais à frente.
Existem “nudges” que direcionam políticas mais amplas. Alguns países tornaram padrão a doação de órgãos. Se não quiser ser doadora, a pessoa deve manifestar esse desejo. Com apenas essa alteração, sem tirar a opção de escolha, houve aumento significativo na doação de órgãos. Na Inglaterra, mensagens motivacionais semanais, “nudges”, para os alunos reduziram em 7% o absenteísmo e em 33% o abandono escolar.
Há uma nova profissão – arquiteto de escolhas – responsável por organizar o contexto sob os quais as pessoas tomam decisões. Um argumento utilizado contra a arquitetura de escolhas é que não competiria ao Estado ser “paternalista” e induzir determinados comportamentos nos cidadãos. Na defesa, os defensores do chamado “Paternalismo Libertário” argumentam que toda decisão humana é condicionada pela forma como ela se apresenta; além disso, os “nudges” já são usados para promover vendas de produtos.
Ademais, políticas públicas baseadas em “insights comportamentais” tendem a ser mais eficientes, mais baratas, e menos invasivas do que as tradicionais regulações baseadas em obrigações e proibições, o que seria uma forma menos intrusiva de ação estatal, desde que feitas com a devida transparência para o cidadão.
As fortes imagens nos maços de cigarros podem ser “nudges”, como incentivo à saúde sem envolver uma proibição. Como fazer os brasileiros criarem uma mania pela educação, esse que é o grande vetor do desenvolvimento? “Nudges” para incentivar a família a participar da vida escolar, mensagens de incentivo para evitar a evasão ou uma escola bem cuidada na aparência já sinalizaria que aquilo é importante.
Pensando na pandemia, como seriam os “nudges” para incentivar comportamentos corretos? Mensagens interessantes em outdoors podem fazer efeito complementar às proibições. Exemplos já existem: “ Vai sair com a namorada? Lembra que na UTI a cama é de solteiro” ou “Eu tô aqui porque sou um outdoor. E você, tá fazendo o quê na rua?”. Outra maneira seria distribuir máscaras com emblemas de times de futebol ou com imagens de ídolos da música.
Um dos princípios centrais do ‘nudge’ é óbvio, mas precisa ser relembrado sempre: para incentivar um determinado comportamento, torne-o fácil. A economia comportamental, com “nudges” e outras abordagens, têm mostrado resultados tão importantes em políticas públicas e no conhecimento de como as pessoas tomam decisões também no setor privado, que já geraram Prêmios Nobel de economia.