Na educação, mais desigualdades com a covid-19

Uma das características que mais diferencia uma nação desenvolvida de uma em desenvolvimento é a qualidade da educação. Entre as muitas consequências nefastas trazidas pela covid-19 há o aumento desta desigualdade. O articulista Demétrio Weber, que estreia aqui n'Os Divergentes, defende o ensino remoto como forma de minimizar os efeitos da praga mundial

Foto: Orlando Brito

Enquanto escolas no mundo inteiro correm para oferecer ensino remoto, uma coisa é certa: a pandemia de covid-19 vai ampliar as desigualdades na educação. Sem aulas presenciais, a exclusão digital se encarregará de deixar para trás uma multidão de crianças e adolescentes.

Pelo menos 191 países fecharam as escolas para conter o novo coronavírus, afetando 1,5 bilhão de estudantes da pré-escola à universidade, segundo a UNESCO. A mesma UNESCO estima que metade desses alunos vive em lares sem computador e que 43% não têm acesso à internet em casa.

A pandemia alargará o fosso educacional entre o mundo desenvolvido e as demais nações, especialmente a porção mais pobre do planeta − na África subsaariana, oito em cada dez estudantes não têm internet em casa. Por outro lado, a quarentena fará aumentar também as desigualdades internas de cada país.

Em razão da pandemia da covid-19, Portugal inicia trimestre escolar com teleaulas

No Brasil, dados de 2018 mostram que 20,1% da população moravam em domicílios sem internet, de acordo com a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE. No Sudeste, esse percentual era de 13,5%; no Nordeste, saltava para 30,8%.

A pressa e a falta de experiência com ensino remoto têm desafiado professores e gestores educacionais. A exclusão digital só aumenta o problema.

No Brasil, estados e municípios buscam alternativas ao ensino on-line. Seja transmitindo aulas pela televisão (Amazonas, Distrito Federal, Maranhão, Pará, Pernambuco, São Paulo) e pelo rádio (Maranhão) ou enviando materiais impressos aos alunos (Santa Catarina, prefeitura de São Paulo).

Nos Estados Unidos, o superintendente do distrito escolar de Los Angeles logo percebeu que o número de lares sem internet seria um entrave − sim, a exclusão digital está presente também na maior economia do mundo. Procurou, então, a PBS, uma rede de TV sem fins lucrativos, e deu início a um programa de teleaulas cujo modelo se espalhou pelos EUA. No Brasil, emissoras públicas têm sido parceiras das secretarias de Educação.

Com internet ou não, o ensino remoto é a saída para o fechamento de escolas na pandemia. Mas o grande esforço de promoção da equidade terá de ser feito na volta às aulas. Seja quando for.

* Demétrio Weber é jornalista, mestre em Direitos Humanos, Cidadania e Violência e criador do blog Educa 2022

Deixe seu comentário