Mania de baixeza – o desembargador e o soldado

Quem deveria ser um representante da Justiça a desonrou duas vezes. Deu um carteirada em um modesto brasileiro que estava cumprindo seu dever no combate ao novo coronavírus

O soldado Cícero e o desembargadorzinho

Há pessoas instruídas que conseguem praticar dois delitos simultaneamente, e o fazem com satisfação  porque consideram, na sua mente insana, que está realizando uma ação correta. Elas se consideram superiores. Os demais é que estariam errados. Tais fatos ganham notoriedade flagrados  pela televisão, e causam indignação à sociedade, solidária no interesse da saudável convivência humana.

O mundo atravessa uma das maiores pandemias de sua história, com os estragos causados pela covid-19. A medicina e os cientistas avançam em busca de uma vacina, que pode estar próxima. Até lá providências simples, como o uso de uma máscara protetora do rosto, encobrindo nariz e boca, evita a propagação do vírus entre as pessoas. O confinamento social, e a máscara, são medidas que  em todos os países apresentam resultados satisfatórios  na guerra contra o vírus.

Mas há os ignorantes de mentalidade e prepotentes diante das leis. Obedecem se quiserem, mesmo que sejam encarregados de zelar por elas. Um deles, Eduardo Siqueira, desembargador do TJ paulista, foi passear na praia de Santos e, contrariando a lei,  não usava a máscara. Porque não queria e pronto. Mas o guarda municipal Cícero Hilário conversou com ele e aplicou-lhe duas multas. O desembargador era grosseiro e virou fera. Rasgou as multas e jogou-as na areia. Bom exemplo, a seu ver, para a população.

Quem deveria ser um representante da Justiça a desonrou duas vezes. Uma baixeza do tal desembargador. Rasgou a multa e ofendeu o guarda, chamando-o de analfabeto e o tratando com desdém, por se tratar de uma pessoa simples. Era um modesto brasileiro cumprindo corretamente seu dever de trabalhar e contribuindo para acabar com a coronavírus.

O Presidente da República já deu o mau exemplo de não usar a máscara, cedendo agora, atingido pelo vírus. Os inconscientes e ignorantes organizam festas clandestinas, desafiam a fiscalização nas praias, bares recebem mais clientes do que o permitido, e assim vão criando mais problemas para os brasileiros.

As câmeras  flagram comportamentos desafiadores  às autoridades médicas e cientistas dedicadas ao estudo da doença e à política que deve ser seguida para evitar as mortes em grande escala e o aumento do número de atingidos pelo vírus. Colocar-se contra a mobilização   generalizada é crime, insensatez  e, sintetizando, ignorância.

Apoiar as milhares de vítimas atingidas  pela   epidemia e ajudar as famílias atingidas pelo sofrimento é obrigação  dos brasileiros. As praias, os bares, vão se enchendo. Mas as  telas vão revelando, enquanto isso, um  povo parcialmente descomprometido. No Rio, em meio a uma manifestação, uma mulher discute com o fiscal que lhe pedia a colocação da máscara. Indagado quem era, e com que autoridade lhe fez a exigência, disse tratar-se de um cidadão brasileiro, trabalhando.

Apelando para a grosseria e para a questão social, a pretensiosa disse-lhe que ele não era cidadão, questionando possivelmente sua ocupação profissional. Eu sou cidadã, sou engenheira civil, respondeu presunçosa. Pois é melhor usar devidamente a máscara, para continuar sendo.

— José Fonseca Filho é Jornalista

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